11 Novembro 2018      14:45

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Julio Cortazar - Gostamos tanto da Glenda

G, de Glenda, de Glenda Jackson, sim, mas principiemos pelos gatos, pelas esposas e olhares que não podemos dirigir para nós mesmos (espelhos não servem, são fracos e equívocos substitutos). O primeiro de dez contos. Conto tremendo, pois terrível. Quando o nosso espaço é contido / esmagado por equívocos, que também são nossos, é claro. Mulher e gato, ambos distantes. A mulher tão longe quanto bela. Talvez por isso mais bela. E cada vez mais longe, indecifrável, e tão bela. Frequentadora de museus, analista de quadros. Cada vez mais bela e distante. Por fim, mulher e gato olham de frente. OLHAR vedado ao herói.

E agora Glenda. Garson, e não Jackson, enfim, claro que Jackson. Paixão louca pelo excesso de racionalidade. O toque Cortazar. Última linha: "En la altura intangible donde la habiamos exaltado, la preservariamos de la caida, sus fieles podrian seguir adorandola sen mengua; no se baja vivo de una cruz."

 

"Histórias de Aranhas", casal em que o narrador parece ser um homem até ao último parágrafo. Pelo menos com este leitor assim foi. Afinal era um casal de mulheres. Melhor assim.

Há um mistério no passado recente, talvez um crime, e um medo por esclarecer. Vozes de mulheres (duas) no bungalow contíguo, com uma voz de homem, uma única voz, pelo meio. Depois essas mulheres vão embora, e as nossas substituem-nas, respondendo a um chamamento. Encontram-se numa ilha húmida, tropical, talvez a Martinica. Sobre o mistério nunca seremos esclarecidos. Também não era preciso.

Ainda sobre actos que a memória pode reviver, mas jamais podem ser descritos, mesmo por um dos mais notáveis escritores. Claro que a referência é a ditadura militar argentina (ou outra qualquer, para qualquer outro com memória ou a construir memória alheia, também em parte sua). E o elemento de construção é a tortura seguida de assassinato.

 

Imagem de abrilveja.files.wordpress.com

 

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