14 Janeiro 2023      12:28

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Janeiro

O mês tinha começado com um frio moderado. O pior não era o frio em si, mas o vento e a chuva que se fazia sentir no monte. Quando falamos de montes no Alentejo, falamos das casas que se espalham pelas serras ou planícies.

Janeiro não era assim tão diferente dos outros meses, nem o era das outras pessoas a pessoa de quem falamos. É verdade, também se chamava Janeiro o homem que morava no monte.

Voltando ao mês, este começara meio chuvoso. No fundo, não era nada negativo no contexto de inverno e da necessidade de haver água nas barragens e nos ribeiros. Assim, com esta chuva já havia. Corria pelos regatos uma porção de água que dava para alimentar os animais e as sementeiras, lá pelo verão adentro.

O Alentejo, como tantos outros lugares do nosso Portugal, disso está dependente e disso vive e sobrevive.

Janeiro vivia ali há 72 anos e nada diferente tinha conhecido. Não tinha sido dos que tinham ido à guerra. Nunca lhe tinha chegado a ordem de ingresso. Talvez fosse pelo seu feitio especial. Agora que os pais já tinham falecido, vivia sozinho. Sozinho, não. Acompanhava-o todos os dias e em todos os momentos, como um fiel seguidor, o seu rafeiro.

Os pais sempre o protegeram. Sabiam do seu feitio especial e pensavam no dia da sua partida e do que lhe aconteceria. Janeiro nunca se preocupara muito com esses pormenores. No seu mundo, Janeiro tinha um ritmo já determinado, tarefas que lhe davam prazer e outras que nem tanto mas eram necessárias. O rafeiro fazia-lhe companhia.

Uma tia que morava no monte a seguir tratava de olhar por ele e isso chegava. Janeiro era especial porque era uma pessoa como todos nós, com sonhos e com defeitos.

Janeiro, o outro, começara chuvoso, mas isso era bom para o equilíbrio do ano que há-de vir.