20 Fevereiro 2019      16:06

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Jacinto-de-água fez desaparecer fauna aquática nativa em Mora

Filipe Banha, investigador da Universidade de Évora
O jacinto-de-água (Eichornia crassipes), espécie exótica invasora, originário das regiões quentes da América do Sul levou já ao “desaparecimento da fauna aquática nativa” no Açude do Furadouro, Ribeira da Raia em Mora, bem no centro do Alentejo.
 
Filipe Banha, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE_UÉ) que junto com Pedro Anastácio, é responsável por coordenar o projeto europeu “Aquatic Invasive Alien Species of Freshwater and Estuarine Systems: Awareness and Prevention in the Iberian Peninsula” (INVASAQUA), que estuda as ameaças causadas pelas Espécies Não-indígenas, Aquáticas Invasoras dos Ecossistemas de Água Doce e Estuarinos na Península Ibérica, esclarece que Portugal mobiliza “importantes recursos económicos e humanos” para travar o alastramento desta espécie que preocupa quer investigadores, ambientalistas e comunidade local.
 
Para Filipe Banha a solução passa sobretudo pela prevenção, para "evitar situações similares e impedir a introdução de espécies exóticas invasoras seja por desconhecimento ou de maneira acidental".
 
Recorrendo a uma análise da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), os dados mostram que estas espécies “são a segunda causa de ameaça mais comum associada à extinção de espécies”, descritas como aquelas que “foram introduzidas por ação humana - intencionalmente ou acidentalmente – para fora de sua distribuição natural passada ou presente”, o que se traduz num “problema crescente devido ao aumento das trocas comerciais e ao aumento no movimento de pessoas e bens ao redor do mundo”.

Na Península Ibérica, “os ecossistemas aquáticos estão especialmente em risco, desconhecendo-se a situação atual das Espécies Exóticas Invasoras (EEI) e o grau de ameaça que representam para o meio ambiente e seus efeitos socioeconómicos”, o que dificulta “qualquer política de gestão proposta, mesmo quando os dados sobre invasões e impactos aquáticos estão disponíveis e detalhados.”

O Jacinto-de-Água, uma praga mundial que ameaça rios um pouco por toda a parte, originária da bacia do Amazonas, Brasil, está propagada pelo Guadiana e parece capaz de atingir a barragem de Alqueva. É a propria Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) que a declara  "preocupante e uma ameaça, pois trata-se de uma espécie exótica invasora com elevada capacidade de propagação e consequentemente com elevada capacidade de degradação da qualidade da água".

Para já o controlo da propagação da espécie que é exótica e de crescimento rápido, está a ser possível com recurso a duas barreiras de contenção entre Portugal e Espanha, a primeira colocada em 2012 a dez quilómetros da Ponte da Ajuda e a segunda em 2014 a três quilómetros da albufeira de Alqueva. 

Esta planta propaga-se à superfície das águas e possui um sistema radicular de vários metros abaixo da superfície. Cortá-la é ineficaz, porque ela volta a reproduzir-se, por via do sistema radicular que se mantém intacto.

Por enquanto a EDIA efetua recolhas semanais, sobretudo no tempo quente, o que tem mantido à distância a infestante que impede a entrada de luz solar e a oxigenação das águas, com graves consequências para fauna, flora e, no limite impossibilita o consumo humano ou o uso agrícola da água contaminada. Do lado de Espanha no verão passado chegou a recolher-se mais de uma centena de toneladas por dia da planta infestante, que cobria então uma extensão de 75 quilómetros.

Fontes:ueline.uevora.pt

 

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