2 Março 2019      16:00

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IX Koh Mak - Tailândia

O destino seguinte dos dois não estava definido. A decisão, como muitas no passado, tinha sido feita em comum acordo e decidiram os dois que aquela era a melhor opção. A mulher de Amaro tinha pedido expressamente que fossem ambos para um lugar escondido, com o menor número de pessoas possível. Na fase em que se encontrava, apenas o silêncio a ajudaria a aguentar o peso que sobre a sua cabeça se acumulava. A mulher de Amaro, Linda, tinha consciência do seu estado e sabia o que lhe estava reservado. Amaro também sabia e, embora as vicissitudes os tivessem afastado, esta era a altura de lhe dar o conforto que a mulher precisava.

Voaram para Banguecoque. Sendo ambos portugueses, não precisavam de visto de entrada. A capital da Tailândia, era muito diferente de Hong Kong e Macau. Os cheiros eram diferentes, o tamanho e a topografia incomparáveis. Ao meio um rio imensamente poluído, cuja beleza maior para ambos, num dos passeios, foi a Embaixada de Portugal, antiga feitoria cujo detalhe surpreendia.

Comeram num dos mercados de rua em Chinatown e sentiram-se felizes os dois nesse dia. Banguecoque acolheu-os na área de Ekamai, próximo da estação do Government Bus 99 que os levaria ao sul da capital, a caminho do destino final, a pequena ilha de Koh Mak (Koh em si significa ilha...).

A viagem no autocarro demorou à volta de de cinco horas e meia. Foi longa e cansativa. Assim se sentia Linda. Assim se sentia Amaro. Viram a paisagem do caminho que percorriam, mas a sua cabeça concentrava-se só em duas coisas, naquilo que atormentava a ambos e no destino daquela viagem, na ilha.

Tinham saído cedo, por volta das 7 da manhã e chegaram às 13 horas a uma pequena terra de seu nome Laeng Knop, onde apanhariam uma carrinha de caixa aberta, como táxi e que os levaria ao porto. Daí, também já à espera estava o barco rápido que, numa hora, os levaria finalmente a Koh Mak. O dia parecia o mais longo que tinham tido até aí. O mar estava azul e calmo, e os turistas amontoavam-se, junto com as malas, para entrar naquele barco e descobrir aquele recanto do qual remotamente o médico tinha ouvido falar um dia.

No barco, Linda adormeceu com a cabeça deitada no ombro daquele que tinha amado tanto. A vida tratou-a tão mal nos últimos anos e o pensamento na cabeça. Amaro dormiu um pouco, sentindo a ondulação. O mar dera-lhes as boas vindas.

Uma hora depois, chegaram ao porto e, no meio de uma confusão, apanharam mais um táxi de índole semelhante ao anterior. Ajeitaram-se entre os outros turistas que, de novo com as malas, se atulhavam. As estradas eram peculiares e, a certo ponto, acabava o alcatrão e começava um piso de terra batida. Amaro tinha tido o cuidado de marcar o Pano Resort, que ficava numa das áreas isoladas da ilha.

Construído em madeira, era composto de três alojamentos, divididos em dois quartos e no lado oposto, junto a uma perna do mar, o restaurante aberto, onde passariam tanto tempo dos seus dias. Boi, o dono do resort esperava-os, com a típica simpatia tailandesa. O peso nos ombros de ambos obrigava-os a deitarem-se no quarto e adormecerem de novo. Ainda que o jet lag os continuasse a perseguir, conseguiram adormecer ao som da ventoinha do quarto e com vista para o balouço que entre eles e o mar, os convidava a ver o por do sol.

À hora que o sol se poria, acordariam e desceram até à beira do mar, sentando-se na berma e molhando os pés na água daquele mar que ainda desconheciam. Só a beleza do infinito azul lhes preenchia os olhos e conseguia afastar a tristeza que sentiam. Passariam ali bons dias. Começaria ali a nova vida de ambos, mesmo que soubessem que a vida os levaria para caminhos diferentes.

Ainda que não tivessem encontrado as cartas que ambos deixaram, o que ajudaria nas pistas, os detetives viajaram de Hong Kong para Banguecoque. Tinham conseguido apanhar o rasto dos dois e sabiam, pela utilização do cartão de Amaro que, entretanto chegara, onde tinham estado. Não foi fácil conseguirem chegar a Koh Mak. O caminho não é fácil mas vale a pena quando os olhos se enchem com a luz do pôr-do-sol.

Esse mesmo por do sol marcaria as cartas de Amaro e Linda. Cartas essas que escreveriam e deixariam ao cuidado de Boi, na esperança de que, um dia, alguém, os filhos, as buscasse. Boi guardá-las-ia e serão essas cartas que ajudarão a perceber tudo aquilo que ainda está por dizer. Nelas reside a esperança e a expetativa de todos nós.

 

(continua…)    

 

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