Na passagem de ano de 1961 para 1962, pouco mais de 100 homens, militares e civis, acreditaram ser possível um golpe de Estado que derrubasse a velha e saturante ditadura de Oliveira Salazar, que amarrava o País à miséria, ignorância e guerra. Conhecida como a "intentona de Beja", um prenúncio da revolução e que falhada, resultou na morte de duas pessoas.

A intentona resume-se a uma tentativa de assalto ao quartel do Regimento de Infantaria 3 (RI3) em Beja, por um pequeno grupo de homens comandados pelo capitão Varela Gomes, que envolveu o major Francisco Vasconcelos Pestana, filho do antigo ministro da I República, Pestana Júnior, o capitão Pedro Marques, o tenente Brissos de Carvalho, primeiro Governador Civil de Beja após o 25 de abril, bem como dos civis Manuel Serra e Fernando Piteira Santos. E não correu nada bem. Queriam controlar o quartel, obter armas, e de seguida garantir a adesão de outras unidades militares, da população do Alentejo e do Algarve, onde seria declarado o derrube da ditadura. A revolta deveria alastrar por todo o país...

A noite foi chuvosa e com ventania, como recorda António Costa Pedro, a fazer 18 anos e a viver naquela cidade. "Ninguém sabia quem eram os bons e os maus e ninguém falava do assunto com medo".

Segundo uma peça do JN, assinada por Teixeira Correia, a guarnição era composta por pouco mais de 300 homens, metade do que era habitual. Os revoltosos abriram fogo de metralhadora sobre o major Calapez, atingindo-o no tórax. Este ripostou e, de imediato, Varela Gomes fica gravemente ferido no baço, sendo levado para o hospital de Beja. Durante a refrega, foi morto o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então subsecretário de Estado do Exército.

Estava encerrado o episódio apesar do alerta que o quartel viveu nos cerca de dez dias seguintes

O revoltoso Varela Gomes foi expulso do Exército, julgado e preso pela PIDE, enquanto o major Calapez foi considerado "herói" pelo regime de Salazar. 

Humberto Delgado foi sempre apontado como o homem que esteve por detrás do golpe, mas sem nunca ter aparecido. O "General Sem Medo", que estava na clandestinidade, veio para Lisboa e, depois, para Vila de Frades (Vidigueira) onde acompanhou o desenrolar da revolta. Fracassado o golpe, Delgado regressou ao exílio.