25 Maio 2020      19:24

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Inovação Social em Portugal no Séc. XXI: 5 atores fundamentais para o seu sucesso

O sector da inovação social tem ganho o seu espaço e relevância na sociedade portuguesa, e também europeia, assumindo um nível de grande qualidade, pertinência e consistência nos últimos.

Estes bons resultados são resultado da sua capacidade de compreender e acompanhar a transformação da realidade social, de criar e inovar novas respostas, de olhar o futuro com uma visão positiva, mas também da pragmática, do trabalho em rede e multissectorial, que contribuíram ativamente para este estimulante caminho que tem vindo a ser pontuado com vários casos de sucesso individual e, sem dúvida, coletivo.

Deve-se, sobretudo, ao trabalho de um vasto conjunto de empreendedores, académicos, dirigentes de empresas ou fundações e de técnicos e decisores na administração pública.

Sim, mas se tivesses de indicar 5 pessoas que, na tua opinião, contribuíram decisivamente para alcançar o patamar de franca qualidade em que nos encontramos, quem seriam?

Sendo seguramente injusto na resposta a esta questão, atrevo-me, neste breve artigo, a nomear 5 pessoas que considero que, em determinado momento, foram marcantes, estando confiante que apesar de tudo, serão relativamente consensuais.

Começo por Diogo Vasconcelos, um verdadeiro empreendedor, que tão bem relacionou inovação, tecnologia e sociedade, tendo falecido precocemente em 2011 com apenas 43 anos de idade.

Não tive o prazer de o conhece pessoalmente, mas acompanhei o seu trabalho quando me comecei a interessar por este tema. Diogo Vasconcelos foi sem dúvida marcante na sua geração e inspirou muitos portugueses para o empreendedorismo e para inovação.

Entre muitas outras iniciativas, Diogo foi um dos mentores do Dialogue Café, um projeto que recorreu à tecnologia de videoconferência de última geração da Cisco (onde trabalhou durante vários anos) para criar uma rede de salas de conversa informal em todo o mundo e, assim, quebrar a barreira da distância para aproximação de sociedades e culturas.

Diogo Vasconcelos foi também Presidente da prestigiada SIX - Social Innovation Exchange, coautor de importantes e marcantes relatórios europeus sobre o tema da inovação social na Europa e, em Portugal, na qualidade de Presidente da Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (2003-2005), foi determinante para a modernização administrativa e aproximação dos cidadãos à governança pública quando lançou, p.e. a criação do Portal do Cidadão

A Comissão Europeia criou, a título póstumo, o “European Social innovation prize Competition in memory of Diogo Vasconcelos”, um dos mais reputados prémios europeus para distinguir projetos na área da inovação social.

Mais recentemente, Filipe Santos, com toda a probalidade, a maior referência portuguesa no mundo na área do empreendedorismo e inovação social. Filipe é regularmente convidado para inúmeros fóruns, grupos de investigação ou reflexão, tendo desenvolvido inúmeros artigos científicos sobre o tema.

Sendo o atual reitor da Católica Business and Economic School, é também professor visitante no INSEAD, onde dirigiu o Centro de Empreendedorismo e desenvolveu o seu trabalho de investigação em torno do empreendedorismo social. Um excelente professor e comunicador, granjeia simpatia e reconhecimento profissional de todos os que trabalham nesta área temática.

Conheci Filipe Santos ainda como Presidente do IES-Social Business School em 2009, uma das mais reputadas instituições portuguesas na área da formação em empreendedorismo e inovação social em Portugal. Filipe foi cofundador do do IES e também do Laboratório de Investimento Social (atual Maze – Decoding Impact), em 2013, hoje outra organização de referência no ecossistema nacional.

Filipe Santos teve um papel estruturante na preparação da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, a qual lançou e foi o seu primeiro Presidente. Recorde-se que este é um programa de referência na europa que está a transformar radicalmente o ecossistema nacional. Filipe Santos é também o atual presidente da EVPA – European Venture Philanthropy Association.

O meu destaque vai também para Miguel Poiares Maduro, pelo papel determinante que teve, enquanto decisor político, na constituição da Portugal Inovação Social.

Efetivamente, Miguel Poiares Maduro assumiu em 2013 as funções de Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional do XIX governo da república portuguesa, tendo então a pasta da negociação do quadro de financiamento plurianual da união europeia, vulgo, fundos comunitários.

Miguel teve, na minha opinião, uma decisão fundamental para que hoje o nosso ecossistema nacional de inovação social esteja neste ponto. Poiares Maduro teve a sensibilidade, a inteligência e a coragem política de tomar a boa decisão de apoiar de forma entusiástica e consistente a constituição da Portugal Inovação Social. Em pleno tempo de intervenção da TROIKA, teve a coragem de alocar 150 milhões do FSE para apoiar a inovação social. Sem dúvida uma decisão ousada, mas acertada, que permite hoje experimentar novas respostas para os desafios sociais emergentes.

Miguel Poiares Maduro é atualmente Diretor da School Transnational Governance e Professor de Direito no Instituto Universitário Europeu.

O António Miguel é daquelas pessoas com quem se simpatiza de imediato pela simpatia, cordialidade e por ser um excelente profissional, um fora de série.

António fui dos principais responsáveis na conceção e desenvolvimento do primeiro Título de Impacto Social em Portugal – a Academia de Código Junior, resultado da experiência e conhecimento que obteve durante os 10 anos que passou na Social Finance UK, uma instituição de referência na qual acompanhou os primeiros Social Impact Bonds no Reino Unido.

Conheci o António Miguel em 2015, numa reunião do Grupo Português para o Investimento Social, que ele coordenava. Esta task force produziu o excelente relatório “Novas abordagens para mobilizar financiamento para a inovação social em Portugal”, documento que apresenta um road-map robusto e assertivo para criar um verdadeiro mercado de investimento social em Portugal.

António participou também no desenho da Portugal Inovação Social e fundou o Laboratório de Investimento Social, atual Maze Deconding Impact. Nos últimos anos, esteve focado na constituição do fundo Mustard Seed MAZE, um fundo de capital de risco para investir em startups sociais.

António Miguel foi distinguido como Global Shaper do World Economic Forum, é professor visitante na Nova SBE e, tal como eu, partilha da paixão pelo surf.

Por último, seleciono Filipe Almeida, atual Presidente da Portugal Inovação Social. Filipe Almeida é Professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra desde 1996 e interrompeu o seu percurso académico em 2017 quando acedeu ao convite de Maria Manuela Leitão Marques, Ministra da Presidência à data, com a tutela da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), para a presidir.

Filipe entregou-se a esta missão de corpo e alma, emprestando a sua inteligência e dinâmica para criar uma relação de grande proximidade com os diversos agentes, estando a liderar com redobrada energia e compromisso a EMPIS nos últimos 3 anos. Filipe conseguiu agilizar procedimentos e imprimir uma dinâmica muito virtuosa na execução da EMPIS, permitindo que as diferentes medidas estejam a ser executadas com sucesso nas suas diferentes dimensões.

Muitos outros nomes foram fundamentais na construção do ecossistema nacional, por exemplo os empreendedores, Miguel Neiva, da ColorAdd, Frederico Lucas, dos Novos Povoadores, Miguel Alves Martim, cofundador do IES, Nuno Frazão do MIES, o saudoso Manuel Forjaz, Miguel Muñoz, o Frederico Fezas Vital, Frederico Cruzeiro Costa, o Tito Damião, o Hugo Menino Aguiar, a Carolina Almeida Cruz, mas também decisores políticos como Carlos Moedas, Maria Graça Carvalho e claro a Professora Maria Manuel Leitão Marques. Decisores institucionais como a Luísa Valle e o Luís Jerónimo da Fundação Gulbenkian, o Fernando Amaro ou a Margarida Pinto Correia na EDP, a Helena Gata e o Carlos Azevedo do IES, a Luísa Ferreira do Instituto BEI, entre tantos outros, que me perdoarão por não os referir neste breve artigo, mas que sabem que os admiro, estimo e respeito.

Concluindo, o nosso país tem atualmente um ecossistema diverso, dinâmico, criativo e coeso, com um elevado grau de proximidade e inter-relação que o robustece e permite cocriar soluções em distintas frentes.

Este facto fica-se a dever a estes e a outros tantos atores, que foram construindo caminho, ultrapassando dificuldades e envolvendo novas pessoas neste trilho apaixonante que contribui, decisivamente, para que hoje tenhamos o mundo, apesar de tudo, ou pouco melhor.