19 Junho 2019      09:43

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Ídolos contemporâneos ou a escolha do Amor

«Temos tanto amor dentro de nós que nunca sai» in Cavaleiro de Copas, 2015, Terrence Malik

No passado Domingo em mais uma missa dominical, ouvi da homilia do sr. Padre, a evocação à Santíssima Trindade, do Pai, do Filho e do Espíritos Santo e da sua revelação em forma de humildade, mas também da criação e adoração pelos cidadãos, de ídolos, de vários ídolos que nos afastam da essência da vida e do foco na sua mais pura genuinidade. E não podia concordar mais com o seu sermão. Aliás, a humildade que pudemos observar nesta Santíssima Trindade, podemos tantas e tantas vezes aceitar nas considerações que os sacerdotes da Igreja nos trazem pela sua Palavra, reforçada pela vasta reflexão, introspecção, conhecimento social e filosófico, dando de forma desinibida e até desbragada importantes contributos para o diagnóstico social e redenção individual sobre percalços que nos assolam quotidianamente.

E acrescentava o sr. Padre que o importante é o Amor e nada mais além deste sentimento. Tudo deveria cingir-se ou expandir-se, como queiram, a partir daqui, deste sentimento e da nossa capacidade de sermos felizes através desta dádiva. Seremos tantos mais felizes quanto mais conseguirmos ter a plenitude deste sentimento, servindo o Outro, fazendo-o feliz, pois além de se traduzir num acto de generosidade e humildade, é em si mesmo um acto de Amor.

E nos dias de hoje idolatramos pessoas, somente pelos seus currículos profissionais, até pelas suas mensagens de intolerância, pelo ódio que vociferam, no egoísmo que propalam, na riqueza que ostentam, mas ainda mais que isso, idolatramos igualmente não só pessoas, mas bens materiais que alegadamente nos trazem a Felicidade. Cada vez mais, sonhamos com um aquele automóvel que fará inveja aos colegas de trabalho, aquelas férias do outro lado do globo que serão devidamente publicitadas, uma casa com todos os extras possíveis e imagináveis, e outros tantos luxos que nos roubam o dia-a-dia, o nosso espaço, a nossa atenção perante o essencial que nos rodeia, o Amor, a Família, a Solidariedade, a Cidadania, a Natureza, etc…. E no meio de tanta abundância de interesses, muitos deles pouco recomendáveis, vamo-nos dispersando, diminuindo-nos perante o caminho que vale a pena percorrer, até porque «só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos» como dizia Saint-Exupery no seu Pequeno Príncipe.

Temos os pais ou avós nos lares, às vezes no hospital com alta à espera que os vamos resgatar, temos filhos nas creches, escolas, tempos livres, ai depositados até que tenhamos tempo para os apanhar, temos namoradas/mulheres que parece não conhecermos, temos amigos com quem deixámos de privar, temos aldeias onde nascemos que deixámos de visitar, temos hábitos que perdemos, sempre porque não temos Tempo e sobretudo porque temos de nos manter presos a este presidio mercantilista e consumista de abdicarmos do nosso tempo somente para mais produzirmos e assim, num suposto afã pela Felicidade, termos maior rendimento que nos permitirá adquirir a Felicidade em euros. E assim neste erróneo caminho, nos afastamos do Amor e perdemos o norte desta nossa jornada efémera que é a vida. Abdicamos de tanto nesta praxis que exercemos presentemente, mas sobretudo abdicamos de dar tanto daquilo que de melhor temos dentro de nós e não libertamos para fazer cumprir a sua função. Há gestos tão simples que poderíamos realizar quotidianamente, até palavras que estão tantas vezes à espera de serem ditas e parecem amordaçadas em bocas secas de Amor.

Deixámos de poder educar os filhos, acompanhar a família, namorar, estudar, ler, brincar, sujar, contemplar, ajudar, reivindicar, e todos estes verbos no infinito se conjugam sem consequências presentes. Os nossos filhos de certa maneira ficaram órfãos, os nossos pais e avós perderam-nos para os os compromissos profissionais e ambições materiais e nossas mulheres indignadas perante nossas rotinas e indiferenças.

Se cada vez mais há quem se rebela com este status quo vigente, esta prisão do trabalho, dos horários, dos telemóveis, das redes sociais, é imprescindível sabermos escolher as verdadeiras prioridades da nossa vida, sabendo sempre que o Amor ao contrário, desta realidade, liberta-nos do desassossego, da distração, da cegueira e da intolerância.

E no final de mais essa missa dominical, de regresso a pé para casa, confesso que a paragem para o café, o cumprimento circunstancial a uma ou outra pessoa conhecida me deram especial sentido depois das palavras do sr. Padre. E assim, nestas incursões lá vamos podendo refletir sobre escolhas que podemos e devemos empreender, sempre para nos realizarmos enquanto cidadãos e pessoas livres.

Obrigado sr. padre Alberto!!

 

Imagem de rotasaude.lusiadas.pt

 

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