13 Março 2021      16:04

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Homenagem às Mulheres Alentejanas

Há poucos dias comemorámos os 110 anos do Dia da Mulher. Para quem não sabe, esta data surgiu pela primeira vez a 19 de março de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. A mudança para 8 de março deveu-se ao dia em que as Mulheres russas protestaram exigindo melhores condições de vida. A manifestação reuniu mais de 90 mil pessoas e a data tornou-se oficial em 1917.

Desde esse tempo, o dia tem vindo a ser comemorado em vários países do mundo, de forma a reconhecer a importância e contributo da Mulher na sociedade.

O Dia Internacional da Mulher tem também como objetivo relembrar as conquistas das Mulheres e a luta contra o preconceito, seja racial, sexual, político, cultural, linguístico ou económico.

No Alentejo não é há muito que se comemora o Dia da Mulher. Foi Abril que trouxe uma nova esperança, uma nova vida, uma forte mudança, uma voz, para a Mulher Alentejana. 

As Mulheres do Alentejo sempre foram muitos especiais. Ser Mulher Alentejana é diferente do que qualquer outra Mulher. As Mulheres Alentejanas são empreendedoras. Muito mais empreendedoras do que os homens. Isso está estudado.

Há uma velha tradição alentejana: ao contrário de outras regiões, todo o dinheiro das famílias é gerido pelas Mulheres. Elas trabalham e ganham, eles trabalham e ganham, mas quando chego o dia de receberem os ordenados, são entregues à Mulher. As Mulheres Alentejanas gerem todo o dinheiro. Vão dando aos poucos aos maridos, um pouco todos os dias (para comprar tabaco, para beber um copo com os amigos ou para beber um café). As mulheres fazem as poupanças, os maridos nunca sabem quanto há, apenas que há pouco.

É assim que foi sendo feita a gestão familiar (melhor, era assim nas gerações anteriores). As Mulheres sabiam quando podiam aplicar as poupanças, sabiam quando podiam amanhar a casa, comprar um carrito mais jeitoso, ou mesmo investir em algum negócio.

Esta tradição de saber guardar, proteger a família, também gerava e aguçava a capacidade em arriscar. Em arriscar um pouco mais, para a família viver melhor.

 

Uma tradição única e exemplar, que ao longo de muitos foi aperfeiçoando a capacidade empreendedora das Mulheres Alentejanas. Quase sempre, o pequeno negócio, uma mercearia, um supermercado, um café, uma pastelaria e até unidades industriais, eram e são criados por Mulheres. Por Mulheres Alentejanas.

 

Reparo ainda hoje, na localidade das Alcáçovas, onde vivo, são as mulheres que gerem os maiores negócios. A maior empregadora, uma fábrica de produtos alimentares, que emprega cerca de 70 pessoas, a “Casa Maria Vitória”, é gerida pela mãe (Maria Vitória) e pela filha (Manuela Xavier). Depois são os supermercados “Meu Super” da Guida Bagão, supermercado “Grosso” da Quina, a fábrica de bolos e pastelaria da Margarida Ilhéu, a pasteleira “Sabores d’Avó” da Teresa Calado, o café “São Pedro” da D. Guida (hoje arrendado), a “Casa Santos Murteira” da Talã, os restaurantes: “Sabores da Vila” da Sofia Porfio, o “Barrela” da Ingrid, o “Gaiato” da Germana Anastácio (hoje ganha-pão do filho), as costureiras das Alcáçovas (Maria José, Fortunata e Lucília Rasteiro), a Drogaria Pajote, a Irene cabeleireira, a oficina do Quim dos Reis (mas é a Maria Rosa Salsinha quem gere o negócio) e muitas pequenas lojas de roupas (difíceis de inumerar), todas elas criadas e geridas por Mulheres.

Mesmo a maior associação, a Terras Dentro, gerida pela Elsa Branco, da Associação Cultural e Recreativa Alcaçovense, a Paula Neves, a Associação Grupo Coral Feminino de «Cantares de Alcáçovas», o Grupo Coral Feminino e Etnográfico “Paz e Unidade” de Alcáçovas, o Grupo Coral Juvenil dos Trabalhadores de Alcáçovas (todos geridos por mulheres), a AAA - Associação dos Amigos das Alcáçovas, a Joana Galvão, a Cruz Vermelha das Alcáçovas, a Sara Pajote, a Associação de Jovens (AJAL), a Gisela Bagão e a Associação de Pais (Ângela Barroso).

Este é um pequeno exercício. Mas quando olharem à vossa volta, vão verificar que nas terras alentejanas, lá estão as Mulheres, à frente dos seus negócios, à frente dos seus destinos, fortemente empreendedoras.

No texto do Alentejoturismo.pt a Mulher Alentejana é descrita como “força agreste e pura; não desiste: investe; não vacila: segue; não desmorona: ampara”.

 

É mesmo assim!