21 Junho 2022      08:55

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Hoje é o dia mais longo do ano: começa o verão

A separação do ano em estações terá começado num mito grego.

Reza a história que Perséfone - filha de Zeus, deus dos Deuses - encantava a todos por sua alegria e beleza.

Certo dia, desceu do Olimpo e veio à Terra dar uma voltinha e foi vista por Hades, o senhor dos mortos, que se apaixonou por ela. Fez abrir o chão que engoliu Perséfone que gritou por ajuda. Deméter, mãe e deusa da Agricultura, ouviu-a e procurou por ela durante nove dias e nove noites. Não a encontrou e pediu ajuda a Hélio, o sol, que tudo vê. Com pena da mãe, Hélio revelou-lhe o sucedido. Indignada disse que não voltaria ao Olimpo sem a filha.

Focada na busca da filha, a deusa deixou de cumprir as suas responsabilidades na agricultura; não alimentava a Terra, começou a faltar comida, os homens passavam fome e Hermes, mensageiro de Zeus, prometeu a Deméter trazer Perséfone de volta desde que ela não tivesse provado alimento dos mortos.  Trouxe-a de volta ao Olimpo, mas Perséfone tinha comido três sementes de romã e Hades levou-a de volta.

Foi aí que Zeus encontrou uma solução: todos os anos, Perséfone fica com a mãe durante nove meses. Nestes nove meses a Terra festeja com a primavera, o verão e o outono. Nos outros três, Perséfone fica com o marido, nas profundezas e nesse período a Terra cobre-se de frio e de gelo: o inverno.

Este ano, o solstício de verão aconteceu hoje, em Portugal, às 04h32min. Hoje, o sol nasceu às 06:11:50 horas – segundo dados do Observatório Astronómico de Lisboa - e pôr-se-á às 21:04:58 horas; o dia solar terá assim uma duração 14:53:08 horas, apenas 1 segundo a mais do que no dia anterior, mas ainda o dia solar mais longo do ano.

A palavra solstício surge do latim soll + sistere, que significa “sol não se mexe”. Astronomicamente, é o momento em que o sol incide com maior intensidade num dos hemisférios da Terra, é o ponto em que o sol atinge a sua declinação máxima ou mínima (verão ou inverno) em relação ao Pólo Norte. Acontece duas vezes por ano e, enquanto no hemisfério norte, acontece o solstício de Verão, no hemisfério sul acontece o de inverno.

Este fenómeno acontece devido aos movimentos de rotação e translação da Terra, e está também relacionados com o esoterismo, tendo uma importância extremamente grande em muitas culturas. Também para os nossos antepassados eram momentos sagrados, que mereciam ser celebrados com monumentos como se pode comprovar por estruturas como Stonehenge, se juntam anualmente dezenas de milhar de crentes para festejaram este acontecimento, numa celebração que se crê seja de origem celta.

Para algumas culturas, é um momento para celebrar o crescimento e a vida; o solstício de verão representa a vitória da Luz sobre a Escuridão e, ao longo da História, este era um dia importante e que marcava o crescimento das colheitas, o tempo áureo do Sol, o astro a quem Incas, Maias, Egípcios, Romanos, Gregos e tantas outras culturas ancestrais idolatravam.

No Egipto, o acontecimento de hoje marcava o início da época de cheios do Nilo, após o derramamento das lágrimas de Ísis pela morte do seu marido Osíris. Celebravam-se festivais em honra das divindades, da fertilidade e da abundância.

Na China antiga, decorriam também celebrações em homenagem à terra, à feminilidade e à força Yin.

Na Suécia, dançava-se e, redor de um mastro, o Majstangen, colocado nos centros das aldeias e colhiam-se ervas (em especial manjericão e visco) nos campos que se acreditavam ter um enorme poder (parecido ao realizado na Quinta-Feira da Ascensão em Portugal).

Acredita-se que os Celtas celebravam o solstício já há cerca de 6000 anos atras, no mítico Stonehenge, enquanto que na Irlanda invocavam Áine, deusa do Sol, para banir os maus espíritos e conseguir boas colheitas, reunindo-se no círculo de pedra de Lough Gur e na colina de Tara para receber o sol nascente.

Em Portugal, apesar de ainda persistirem dúvidas, acredita-se que o Cromeleque dos Almendres, perto de Évora, tem também este cariz solsticial.

Após a união da Deusa e do Deus em Beltane (maio), o Deus está adulto, um homem formado, e tornou-se pai - brotou sementes. Na sua plenitude, traz o calor do verão e a promessa total de fertilização com o sucesso do enlace feita com a Deusa. Sendo o auge do Deus, também prenuncia o seu declínio, nesse momento o Deus, após cumprir a sua função de fertilizador, dá seu último beijo em sua amada e caminha ao país do Verão (Outro Mundo), utilizando o Barco da Morte para morrer em Samhain (31 de outubro).

Os germânicos celebravam Litha, o apogeu do Sol (Sol na pedra) e acendiam-se grandes fogueiras para dar ainda mais força ao Sol, tal como na Suécia onde se celebrava o Midsommar ou na mitologia eslava, onde se celebra a Deusa Kupala, a deusa das ervas, da feitiçaria, do sexo e do verão; também associada à água, natureza; aqui, este dia honrava em simultâneo água e fogo, mandando também a tradição que se façam fogos, no final do dia, e se salte sobre eles, algo visto como purificador e tradição semelhante à das culturas cristãs nas tradicionais fogueiras de S. João, celebrado a 24, daqui a três dias.

 

 

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