Era uma vez uma hipopótamo. Grande. Enorme. Uma hipopótamo que não sofria de hipotermia porque vivia em África, isto é, numa parte quente. Hipopótamo era filho de pai chamado Hipo e mãe chamada Potema.
Nunca soube muito bem porque lhe tinham chamado aquele nome mas isso não lhe fazia diferença. A vida em África era calma, tirando aqueles momentos em que vinham homens brancos e traziam umas coisas que atiravam outras e isso era muito mau, porque dizimaram toda a família de Hipopótamo.
Porém. Sendo uma rapariga mexida e que não se deixava parar por nada, sozinha, abandonada sem família, fez-se à estrada. Ou ao caminho rudimentar no meio da savana ao pé do charco onde a família toda vivera. Hipopótamo decidiu mudar de vida. Nascer de novo. Foi à cidade mais próxima e batizou-se. Deixou de ser Hipopótamo e arranjou outro nome. Não tinha outra hipótese, pensava.
Já vos digo qual foi. A nossa menina fugiu da selva em busca de um sonho! Passou a vida a fingir que tinha uma boca pequena. Sempre ouviu dizer que boca grande não vai longe...às vezes vai, mas ela não queria arriscar!
Em reuniões comunitárias falava baixinho e com os lábios de uma libélula para se não notar a sua proveniência.
Todos lhe tinham medo, e ela não percebia nem como nem porquê... a viagem ao destino final levou vários meses. Nem vos conto o que passou a pobre criatura na aventura que decidiu empreender. Mas chegou! Por volta de 2001, chegou a um país longínquo, na periferia da Europa, com gente muito estranha (em relação aos que conhecia). Chamava-se Portugal! Tudo era muito estranho. A vida é estranha. Nós somos estranhos!
Para a nossa personagem, ainda mais difícil era a adaptação. Sabeis que para os estrangeiros, principalmente hipopótamos, Portugal pode ser um país difícil. Se calhar já se esqueceram da viagens a salto que fizeram para a França, onde eram os estrangeiros. Se calhar já se esqueceram que somos um povo emigrante. Muitas vezes é fácil apontar armas ao estranho e isso, por não ser crocodilo, fez a nossa hipopótamo chorar, da primeira vez que foi descriminada! Gorda! Boca grande! Feia! Volta para a tua terra!
Isso não a demoveu. Já com o nome novo, concorreu a tudo o que aparecia e conseguiu um trabalho! Seria artista de circo e depois, seria ainda mais famosa!
Seria a hipopótamo marca de uma conhecida marca.
Assumiu o novo nome - agora chamava-se Popota! Tinha passado mares, sofrimentos, e agora era feliz e imune aos que a olhavam de cima, embora fossem mais baixos.
Tinha uma história, tinha um exemplo a seguir, tinha uma coragem! Tinha tudo o que muitos dos que a discriminaram nunca tiveram de passar... mas, isto é só uma hipótese como dissemos no título! Queremos acreditar que não existe e são fantasias do pensamento deste narrador!