6 Fevereiro 2021      13:39

Está aqui

Hipótese

Era uma vez uma hipopótamo. Grande. Enorme. Uma hipopótamo que não sofria de hipotermia porque vivia em África, isto é, numa parte quente. Hipopótamo era filho de pai chamado Hipo e mãe chamada Potema.

Nunca soube muito bem porque lhe tinham chamado aquele nome mas isso não lhe fazia diferença. A vida em África era calma, tirando aqueles momentos em que vinham homens brancos e traziam umas coisas que atiravam outras e isso era muito mau, porque dizimaram toda a família de Hipopótamo.

Porém. Sendo uma rapariga mexida e que não se deixava parar por nada, sozinha, abandonada sem família, fez-se à estrada. Ou ao caminho rudimentar no meio da savana ao pé do charco onde a família toda vivera. Hipopótamo decidiu mudar de vida. Nascer de novo. Foi à cidade mais próxima e batizou-se. Deixou de ser Hipopótamo e arranjou outro nome. Não tinha outra hipótese, pensava.

Já vos digo qual foi. A nossa menina fugiu da selva em busca de um sonho! Passou a vida a fingir que tinha uma boca pequena. Sempre ouviu dizer que boca grande não vai longe...às vezes vai, mas ela não queria arriscar!

Em reuniões comunitárias falava baixinho e com os lábios de uma libélula para se não notar a sua proveniência.

Todos lhe tinham medo, e ela não percebia nem como nem porquê... a viagem ao destino final levou vários meses. Nem vos conto o que passou a pobre criatura na aventura que decidiu empreender. Mas chegou! Por volta de 2001, chegou a um país longínquo, na periferia da Europa, com gente muito estranha (em relação aos que conhecia). Chamava-se Portugal! Tudo era muito estranho. A vida é estranha. Nós somos estranhos!

Para a nossa personagem, ainda mais difícil era a adaptação. Sabeis que para os estrangeiros, principalmente hipopótamos, Portugal pode ser um país difícil. Se calhar já se esqueceram da viagens a salto que fizeram para a França, onde eram os estrangeiros. Se calhar já se esqueceram que somos um povo emigrante. Muitas vezes é fácil apontar armas ao estranho e isso, por não ser crocodilo, fez a nossa hipopótamo chorar, da primeira vez que foi descriminada! Gorda! Boca grande! Feia! Volta para a tua terra!

Isso não a demoveu. Já com o nome novo, concorreu a tudo o que aparecia e conseguiu um trabalho! Seria artista de circo e depois, seria ainda mais famosa!

Seria a hipopótamo marca de uma conhecida marca.

Assumiu o novo nome - agora chamava-se Popota! Tinha passado mares, sofrimentos, e agora era feliz e imune aos que a olhavam de cima, embora fossem mais baixos.

Tinha uma história, tinha um exemplo a seguir, tinha uma coragem! Tinha tudo o que muitos dos que a discriminaram nunca tiveram de passar... mas, isto é só uma hipótese como dissemos no título! Queremos acreditar que não existe e são fantasias do pensamento deste narrador!