A Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO) defendeu que é urgente a intervenção do Governo em matérias estruturantes para o setor, como a classificação de atividade económica, a atribuição de um conceito oficial e legislação específica.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da APENO, Maria João de Almeida, disse que “o Governo não tem um conceito oficial, não tem uma legislação, nem considera o enoturismo uma atividade económica”.
De acordo com a responsável, apesar de ser um setor “estratégico para o país”, existem questões estruturais que são entraves para a evolução do enoturismo.
“Para já, não há um conceito oficial” de enoturismo e, perante esta realidade, “como é que vamos conseguir que ele se desenvolva corretamente”, questionou.
A responsável falava a propósito do Encontro Nacional dos Profissionais de Enoturismo (ENPE) que vai decorrer amanhã, quinta-feira, em Sines, para abordar vários temas do setor.
O evento vai reunir especialistas, empresários, técnicos, decisores públicos e outros profissionais ligados ao enoturismo, com debates estratégicos, partilha de conhecimentos e networking.
De acordo com a presidente da APENO, entidade com 124 associados, falta também ao setor uma classificação de atividade económica que permita “distinguir o enoturismo de outras atividades recreativas ou relacionadas com o turismo em geral”.
Antigamente, apontou, o enoturismo “faturava pouco nas empresas”, mas hoje a área já representa “30 a 50%” da faturação anual de “alguns associados da APENO”, o que significa que a “atividade cresceu grandemente e começa a ser relevante” em termos económicos.
A associação tem, por isso, vindo a defender, junto do Instituto Nacional de Estatística (INE), a necessidade de “ter empresas com uma CAE [Classificação Portuguesa das Atividades Económicas] ou sub-CAE de enoturismo”.
Esta medida iria possibilitar “a sua quantificação e precisão estatística”, além de ajudar na captura de “investimento interno e externo” e de “abrir portas para apoios específicos e incentivos, que também não existem por via direta”, defendeu.
Caso “o sub-CAE não possa ser atribuído pelo INE ao mundo do enoturismo”, a associação sugeriu a criação pelo Governo de “um registo semelhante ao das empresas de animação turística”.
A APENO disse estimar que o setor, que abrange a faturação dos seus associados, represente 800 milhões de euros de volume de negócios por ano, 100 mil postos de trabalho diretos e indiretos e 40 mil agentes económicos, entre produtores de vinho, empresas de viagens e de animação turística, garrafeiras, restaurantes, winebars e hotelaria especializada.
A presidente defendeu igualmente criação de uma legislação específica para o setor, com o objetivo de regulamentar de forma básica o enoturismo, garantindo qualidade e parâmetros adequados a esta atividade em Portugal.
“Temos mantido contacto com outras associações internacionais de enoturismo e todas procuram uma solução, porque não é só no nosso país que o enoturismo cresceu exponencialmente, portanto isto é uma questão de tempo”, considerou.
Segundo Maria João de Almeida, a associação já analisou as legislações existentes, adaptou-as “à realidade portuguesa” e sugeriu ao atual Governo “o que faltava ao setor” do enoturismo.
“Agora, só depende da vontade política. E é por isso que este encontro [em Sines] é tão importante, porque é incrível como é que Portugal tem uma estratégia de turismo em que um dos seus fortes pilares é o enoturismo quando, na verdade, oficialmente, o enoturismo não existe”, salientou a responsável.
A escassez de recursos humanos, a falta de formação especializada, a necessidade de quantificar eficazmente a oferta e a realização de um estudo nacional sobre o enoturismo foram alguns dos desafios do setor identificados pela associação.
A 4.ª edição do Encontro Nacional dos Profissionais de Enoturismo vai decorrer, a partir das 09:30, numa unidade hoteleira de Sines.
Fotografia de forbes.com.br