19 Novembro 2022      10:45

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A fonte que não queria parar…

Numa terra muito longínqua, perto de tantos sítios que são ao mesmo tempo desconhecidos e conhecidos, havia uma fonte que não queria parar de deixar água.

Neste tempo em que vivemos, quando a água escasseia em quase todo o lado, conhecer a fonte da qual nos podemos alimentar será uma mais-valia…

Porém, a nossa história de hoje, se é que me posso achar no direito de vos contar uma história semanal. Cada texto que escrevo e apresento ao vosso juízo é uma tentativa de partilha e de receção das opiniões de quem lê e quem presta a atenção que considera por conveniente.

A história de hoje aconteceu há muitos anos no meio da serra do caldeirão, quase perto do lugar onde eu próprio nasci. Entre nós, acredito que tantos como eu de reconheçam neste nascimento, numa realidade próxima desta. De ter nascido perto de uma fonte que não queria parar…

Aconteceu quando eu era jovem. Há muitos anos, talvez na minha adolescência… nessa altura, quando deixava a escola, aos finais de semana, costumava passear nos montes e vales abaixo do meu monte. Se a minha casa, no cimo do monte, deixava que olhasse abaixo, nunca deixei de ter curiosidade acerca da fonte que não queria parar…

E, confesso-vos, que a coisa mais fantástica é buscar a nascente dessa fonte… procurar onde nasce… saber que dessa nascente corre água e essa água trará algo de novo!

Lembro-me, nesses anos, das incursões no inverno, pelos caminhos abaixo, na montanha que é vida… e de a meio do caminho, encontrar uma nascente, num sítio que já desconfiava… mas, de repente, surgir um jorro de água pura.

Se fosse nessa altura, eu ainda adolescente, com a mesma energia que me fez percorrer quilómetros, iria a correr a contar a todos os meus amigos, pais, vizinhos, que tinha encontrado a fonte que não queria parar.

A resposta, sempre simpática, talvez fosse de que todos já a conheciam e, nas suas vidas, tinham conhecido tantas outras iguais. Nas mesmas construíram fontes, poços, barragens e, como bons seres humanos, subjugaram a natureza e usaram-na da forma que melhor poderá ser útil.

Teimosa, sabendo desta história, aquela nascente, decidiu que ajudaria o adolescente! Talvez prejudicando a sua existência… a fonte não pararia mais. Até hoje, a fonte que não queria parar continua a jorrar água. E naquele lugar, os homens já fizeram uma fonte e puseram um cocharro. E a fonte, essa, teima em não parar…