5 Dezembro 2022      09:57

Está aqui

Fim da apanha da azeitona aumenta imigrantes sem-abrigo em Beja

Espera-se que, com o fim da apanha da azeitona, o número de imigrantes sem abrigo aumente nas ruas de Beja e nos concelhos limítrofes de Serpa, Ferreira do Alentejo, Cuba e Vidigueira, adianta o jornal Público.

Em declarações ao jornal, Isaurindo Oliveira, provedor da Cáritas Diocesana de Beja, disse que já alertou o diretor do Centro Distrital da Segurança Social de Beja para que seja acionado o Plano de Proteção Civil e preparado “o apoio que terá de ser dado às pessoas em situação de sem abrigo”, que vão aparecer nas ruas de Beja com o finalizar da campanha de colheita de azeitona.

O responsável alerta que “nestes últimos dias já foi sinalizada mais de uma dezena de pessoas” em situação de sem abrigo, sublinhando que “estas pessoas têm de ser alojadas num período em que o frio aperta”.

Madalena Palma e Inês Féria, dirigentes da associação Estar, uma plataforma de apoio logístico a imigrantes, corroboram a preocupação expressa por Isaurindo Oliveira: “a cidade de Beja está a enfrentar situações muito dramáticas sem conseguir dar resposta ao nível de habitação de emergência e, mais grave ainda, está a enfrentar situações de fome num número de casos bastante considerável”, uma realidade que está a ser superada com o apoio de particulares e das ofertas provenientes dos supermercados.

As dirigentes da associação destacam uma dificuldade no apoio alimentar: cerca de 90% dos imigrantes apoiados são muçulmanos e a confissão religiosa “obriga a constrangimentos para nós na questão alimentar; noutros casos, surgem-nos pessoas que dizem ser vegetarianas”.

Isaurindo Oliveira afirma que “estamos perante um problema social grave”, e o maior problema reside na “falta de organização e de planeamento” para intervir no apoio às pessoas nestas circunstâncias.

Segundo o dirigente da Cáritas, a equipa de rua presta apoio às pessoas que se encontram sem alojamento, a suportar as vagas de frio e de calor, identificando problemas de saúde e de comportamentos aditivos e acompanhamento aos diversos serviços em caso de necessidade.

O aumento no número de pessoas a dormir na rua foi determinante para a Cáritas avançar com o programa de apoio aos que dormem na rua. “Quando começámos, diziam-nos que não havia pessoas nestas condições na cidade de Beja”, conta Filipa Duarte, sublinhando a gravidade da situação que “deve indignar a todos”.

Desde o início do projeto, em março, foram sinalizados 289 sem-abrigo. De acordo com as associações, verificou.se que a falta de alojamento “continua a ser o grande problema para os imigrantes” confrontados ainda com os custos elevados das rendas.

Com a chegada de um elevado número de cidadãos timorenses, o problema ganhou maior amplitude. Em agosto, a Câmara Municipal de Serpa fez uma inspeção às condições em que viviam os imigrantes, na freguesia de Pias. A situação era grave e a autarquia realojou um grupo de imigrantes temporariamente e a pedido da Segurança Social, até que as entidades responsáveis encontrassem uma solução.

Desde então outros grupos de pessoas têm vindo a ser identificados pelas autoridades no sentido de serem realojados na Casa do Estudante, um estabelecimento que anteriormente acolhia alunos e que foi doado à Cáritas de Beja para lá se instalar um Centro de Acolhimento de Emergência Social.

“Tínhamos o projeto pronto há vários meses para aprovação na Segurança social”, mas questões de pormenor foram adiando a aprovação final, esclarece Isaurindo Oliveira. Até que se verificou a falta de alojamento dos cidadãos timorenses e a Segurança Social solicitou à Cáritas que os alojasse. “Quando se está aflito, até os regulamentos se ultrapassam”, diz o provedor. Entretanto, já passaram pela Casa do Estudante cerca de 150 pessoas que estavam sem abrigo.

 

Fotografia de dn.pt