A eleição de Donald Trump trouxe-nos uma viragem clara na política externa americana que, hoje, ameaça as mais antigas alianças económicas, mas também militares e pode, inclusive, levar ao fim da NATO, como a conhecemos desde sempre.
Assistimos nestes últimos meses ao acentuar de um virar de página na Ordem Internacional, marcada por constantes ataques ao Direito Internacional e ao Direito Internacional Humanitário, mas também à aceitação destas violações por países que sempre contribuíram para a normalização e o equilíbrio da ordem mundial.
Neste novo paradigma assistimos a declarações que causam estupefação e perturbação nos principais líderes mundiais e em todo o mundo ocidental e, acredito, que se nos dissessem que veríamos os Estados Unidos da América (EUA) a aliar-se à Federação Russa nos nossos dias, provavelmente ninguém acreditaria.
Mas é verdade! E está a acontecer a cada dia e de várias formas: colocando em causa a estabilidade da NATO, com pressão para os aliados aumentarem para 5% as suas despesas com a Defesa (algo que nem os EUA conseguem alcançar nos dias de hoje); com declarações provocatórias, desleais e de rutura de ataque aos países europeus, reescrevendo a história e assumindo a narrativa russa, fundada na desinformação, como verdade (como fez JD Vance na Cimeira de Munique); afrontando a Ucrânia e a Europa com a marcação de uma reunião de negociação da paz, realizada em Riade, na Arábia Saudita, sem participação da própria Ucrânia; e provocando o Presidente Ucrâniano declarando a sua responsabilidade no início da guerra – numa rescrição da história dos últimos 3 anos – e colocando em causa a sua legitimidade democrática.
Ora, nada disto bate certo!
A estratégia dos EUA parece ser mesmo a de colocar em causa as alianças e o modelo cooperativo com vários aliados, como sejam o Canadá, o Reino Unido e a União Europeia (UE). Aparentemente, para Trump, é mais vantajoso partir a NATO, iniciar roturas com a UE e promover uma aliança com a Rússia, de forma a repartir a Ucrânia e a poder estabelecer novas relações individuais com cada País Europeu.
De que o foco americano estava no Indo-pacífico, não é novidade. Que o principal adversário económico, político e militar é a China, também não restam dúvidas. Mas a forma leviana como se afrontam os países com os quais a relação económica e militar era a mais duradoura não havia espectativas.
Esta conduta coloca em causa a parceria com a UE e a própria NATO que, dificilmente permanecerá como a conhecemos hoje. A NATO tem espaço para continuar sendo que, no entanto, sem os EUA sofrerá uma metamorfose estratégica.
A Europa tem culpas por não ter percebido mais cedo o rumo que esta guerra poderia ter, mas nesta altura do que precisamos é de uma voz firme dos líderes europeus. É altura de sermos pragmáticos e firmes na defesa dos nossos valores. O apoio à Ucrânia e a sua adesão ao projeto Europeu é determinante. A procura da Paz na Ucrânia tem de ser alcançada de forma permanente e durável e as agressões Russas não podem ser esquecidas, nem ficar incólumes.
Aparentemente esta nova posição dos EUA empurra-nos para uma mais rápida união interna (difícil de alcançar com movimentos populistas em vários países, com expoente máximo na Hungria), mas também para um aumento das relações bilaterais com a China e eventualmente para países em vias de desenvolvimento como o Brasil e a India.
No final do dia temos de garantir que salvaguardamos algo demasiado precioso. A noção de que só respeitando a autonomia, a soberania e as democracias de cada país poderemos continuar a defender aquilo que somos e o nosso estilo de vida.