19 Fevereiro 2017      10:59

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FILMES VERDADEIRAMENTE ESQUECIDOS IV

"DESVIOS E RESPECTIVOS ATALHOS: FILMES, LIVROS E DISCOS"

The Razor’s Edge (1984), de John Byrum

Uma vez aqui, deve ser referido que qualquer um dos três filmes dirigidos por Byrum entre 1975 e 1984 cumpre como verdadeiramente esquecido. O obscuro destino do filmmaker Byrum: realizar verdadeiras obras-primas para o verdadeiro abandono. Os filmes: Inserts (1975), Heart Beat (1980) e The Razor’s Edge (1984).

Supondo alguma culpa, não pode ter sido pelo casting. Vejamos: Inserts (Richard Dreyfuss, Veronica Cartwright, Jessica Harper e Bob Hoskins); Heart Beat (Nick Nolte, Sissy Spacek, John Heard, Ray Sharkey, Tony Bill); The Razor’s Edge (Bill Murray, Theresa Russell, Denholm Elliott, Catherine Hicks, James Keach).

Também não pode ter sido pelo ponto de partida das obras. Vejamos: Inserts (o outro lado da Hollywood cintilante; no início dos anos 30, os primeiros tempos do sonoro, onde um realizador, outrora famoso, tem de ganhar a vida através da realização de pequenos inserts pornográficos); Heart Beat (retrato desencantado da geração Beatnik, dos célebres libertários Jack Kerouack e Neal Cassady); The Razor’s Edge (baseado no prodigioso romance homónimo de W. Somerset Maugham).

Então por que razão? Vale o risco: se algo caracterizou o trabalho de Byrum, foi o apego a uma ideia no mínimo imprevidente para um realizador de Hollywood: a supressão (quiçá vaporização seja melhor sentença) de qualquer efeito mitológico dos temas por si filmados e respectivas personagens. Espécie de mecanismo de autocensura cujo resultado é o equivalente a bater com a cabeça na parede. Vejamos: Inserts (a quem ocorreria transformar o excesso de luz da Hollywood pós-primitiva em algo que nem sequer é o seu contrário – digamos que um excesso pintado a negro –, ou seja, temos um único e lúgubre cenário, e apenas cinco personagens faladoras, azoadas e sem espaço de evolução (?)); Heart Beat (a quem ocorreria transformar a imoderação da mais legendária geração rebelde do pós-WW II num desejo de conformismo com o rosto de Jack Kerouak (?)); The Razor’s Edge (a quem ocorreria pegar numa das mais emblemáticas personagens da literatura do século XX, símbolo maior da autodescoberta positiva, máximo divisor comum do caminho para a individualidade responsável, e colocar-lhe em cima um suplemento exagerado de perda (?)).

Pois tudo isto ocorreu a Byrum, julgando estar a falar para um certo tipo de espectadores, que afinal não existiam. No entanto, que fique claro, são verdadeiras obras-primas.

 

Imagem de Cineplex.com