18 Novembro 2017      13:20

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FIASCO

"PARALELO 39N"

Drumbliava entre drumbles e brumbíades. À noitinha, quando já não se via nada, saía da toca onde se escondia e preparava-se para fazer as malandrices que fazia quando as pessoas começavam a ver menos e algumas a fechar os olhos. Era uma criatura muito matreira, que poucos tinham visto mas muitos tinham já ouvido falar, amplamente, diria eu. Era de uma espécie que só há pouco tempo os cientistas conseguiram identificar – Drumbliofes agudus mas era conhecido na gíria humana como Fiasco. Havia unanimidade em relação a dar-lhe esse nome. As coisas que aconteciam por si provocadas, eram normalmente um fiasco.

Ora, Drumbliofes agudus era uma criatura que não conhecia fronteiras terrestres e tanto surgiria aqui, onde estou a escrever e atrever-se-ia a revelar a sua existência. Só se perceberia quando o senhor leitor lesse o texto e chamasse a diabólica criatura pelo nome. Mas há registo do seu aparecimento em muitos outros casos e/ou situações. E, para comprovar estas minhas afirmações, aqui ficam alguns casos em que se verificou a intervenção de vil criatura.

Primeiro caso. Em 1917, numa aldeia na Beira Baixa, Dona Esmeralda preparava avidamente o casamento da sua única filha. A menina, 17 anos, mal conhecia o noivo. Tinham-se visto uma vez, mas era comum naquela altura que se marcasse assim um casamento entre descendência de duas famílias importantes. O noivo, rapaz com mais um ano do que a menina, 18 portanto, era filho da outra família mais poderosa da região. Tudo marcado. A igreja estaria a mais linda de sempre, toda em talha dourada, toda cheia de flores, decorada com brio pela matriarca. O pai observava as movimentações. O mesmo se passava na aldeia onde era rei e senhor, sem trono. O rapaz estava entusiasmado, mas só entre nós, não era com a mesma coisa.

Chegou-se o dia do casamento e lá estava tudo. Esmeralda, safiras, diamantes, pai, filha, família do noivo, e noivo nem vê-lo. Soube-se depois que tinha fugido, preferiu ir para a guerra. Nunca mais o viram. Acham que nem chegou a chegar à guerra. Apaixonou-se no caminho, por uma espanhola. Dizem. Quem esteve presente nesse casamento, tal como todos os outros e à exceção do noivo, foi a vil criatura – Fiasco. Comprovadamente. Até apareceu em algumas fotografias, lá escondido com toda a gente a chorar e ele a sorrir.

Segundo caso. Num país estrangeiro, não no nosso mas também podia ter sido, havia um político. Um político muito dedicado à conversa e aos eleitores. Era um político que verdadeiramente acreditava nos eleitores e naquilo que lhe diziam. Candidatava-se às eleições com todo o vigor. Uma máquina política bem armada, voluntários e voluntárias às centenas e ele confiava nos eleitores. Sabia, pelas palavras deles que ia ganhar as eleições. Chegou o dia. Toda a gente foi votar e ele também foi e sorria. Sorria sempre que via uma pessoa e a pessoa que era simultaneamente eleitor, sorria de volta. E ele sabia que ia ganhar! Nunca lhe passaria pela cabeça perder.

Alugou, para festejar a grande vitória, o maior salão, a maior quantidade de comida, as coisas maiores. Gastou uma enormidade de dinheiro, mas confiava. Confiava nos eleitores e não sabia da existência de uma criatura chamada Drumbliofes agudus. Nesse dia, depois de ter tido 4% dos votos, ficou a conhecer. A sala que devia estar cheia, estava com os únicos cinco que ainda o apoiavam e mais um, a vil criatura, cujo nome não será necessário mencionar.

Terceiro e último caso, dado que já percebeu que a criatura existe. Neste, um homem sonhador viu o lado mais sombrio do Fiasco. Um belo dia em setembro de 2013 jogou no Euromilhões e ganhou o primeiro prémio, e ganhou sozinho. Ficou rico, rico. Não conseguia contar tanto dinheiro e muito menos sabia o que fazer com ele. Optou por pedir conselho a uma das pessoas que dele se aproximaram logo. Aceitou aquilo que lhe sugeriram e decidiu investir a massa toda. Gastou tudo em investimentos bancários, negócios e lançamentos de empresas que lhe vinham propor. Tudo o que era invenção tinha no homem sonhador e rico bom porto. Tudo, que rapidamente passou a nada, e em menos de um fechar de olhos, os negócios faliram, os investimentos perderam-se e não chegaram a nada e o coitado ficou na penúria. Continuava sonhador, mas sem nada. Os investidores e conselheiros, que eram certamente o nosso monstro, escondido em diferentes vestes, fugiram todos. Bem vos digo, comprovado, ele estava lá, o Fiasco. 

 

(Este texto tem 750 palavras)

 

Imagem de jornaldoluxemburgo.com