13 Abril 2023      09:47

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Ferreira do Alentejo: Associação Zero critica construção de central solar

A construção de uma central solar fotovoltaica em Ferreira do Alentejo foi contestada, na passada segunda-feira (10), pela associação ambientalista Zero, que defende que esta obra “põe em causa uma das áreas mais ricas do Baixo Alentejo” no que respeita à conservação da natureza, avança a agência Lusa.

A Zero sublinhou, em comunicado que fez chegar à Lusa, que a central, cuja consulta pública relativa ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) já terminou, se encontra projetada para “uma área ímpar do Baixo Alentejo”.

“Esta área crítica para a conservação deveria ser protegida, contribuindo para o cumprimento da meta de proteção de 30% das áreas terrestres da União Europeia até 2030, definida na Estratégia para a Biodiversidade”, defendeu.

De acordo com a associação, o projeto desta nova central solar inclui 750 hectares numa área de afloramentos rochosos dos Gabros de Beja, chamada de Serra do Paço.

A promoção deste projeto está a cargo das empresas IncognitWorld Unipessoal e Qsun Portugal 4 Unipessoal, que querem fazer um investimento de 156,4 milhões de euros na construção desta central.

A central solar fotovoltaica vai ter uma potência nominal máxima de 187 megavolt-ampere (MVA) e quase 234 quilowatts de potência de pico (kWp) instalados, que permitirão produzir um valor médio de 451 gigawatts hora por ano (GWh/ano), segundo as informações presentes no resumo não técnico do EIA.

A associação ambientalista salientou, no mesmo comunicado, que as características da área “determinaram a notável heterogeneidade das suas comunidades biológicas”, sobretudo no que respeita à flora e ao habitat que constitui para mamíferos e aves.

“A riqueza desta área em termos de biodiversidade levou a que fosse considerada para a classificação como Sítio da Rede Natura 2000, ao abrigo da Diretiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE)”, destacou, embora tenha acrescentado que o processo não foi terminado.

“Só recentemente se começaram a conhecer de forma mais completa os valores botânicos em presença e que hoje se reconhecem como únicos, albergando espécies Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou em Perigo de Extinção (RELAPE)”, afirmou.

A Zero realçou também que, nas últimas duas décadas, embora se trate de uma área que se encontra parcialmente fora do perímetro de rega de Alqueva, esta “tem vindo a pouco e pouco a ser ocupada por olivais e pomares e por uma primeira central solar”, instalada há pouco tempo.

A associação lembrou ainda que, entre a sua vasta riqueza florística, há oito núcleos que têm espécies vulneráveis, criticamente em perigo ou quase ameaçadas que vão ser “afetadas diretamente pela implementação dos painéis, instalação da vedação, caminhos novos e faixa de gestão de combustível”.

“Dado o elevado desconhecimento que ainda existe sobre a área e a dinâmica das suas espécies, existe um elevado risco de afetação de valores atualmente não identificados”, notou.

Referindo que a Serra do Paço é uma das áreas mais elevadas daquela região, que conta com muita exposição a nível visual, os ambientalistas chamaram ainda a atenção para o facto de que a substituição das áreas naturais “constituirá mais um contributo à crescente artificialização da paisagem” e consideraram que a zona eleita fica “totalmente fora” das áreas preferenciais indicadas por um estudo que contou com a coordenação do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) para a instalação destes projetos.

 

Fotografia de jornaldenegocios.pt