17 Julho 2021      09:02

Está aqui

A fadiga

Movimentavam-se dolentes debaixo do calor insuportável do Alentejo. As sombras eram mais pesadas que o próprio corpo. Num horizonte que se perdia de vista, caminhavam como se na penumbra fosse.

A fadiga vivia em todo o lugar da vida dos homens e das mulheres da baixa província. A fadiga movimentava-se no meio das coisas. No rosto das pessoas, o cansaço tomava o corpo da fadiga e tornava a dança do sol com o calor o suspiro da fadiga.

Os homens e as mulheres sabiam que os seus cansaços tinham um nome e viajavam entre pedaços de fazenda nessas terras.

Como no Alentejo, a fadiga ocupa-se de nós e faz-nos agregar-nos a ela de forma tal que a pele se confunde com a fadiga ela própria e a única coisa que nos deixa perceber que ela está connosco é o suor que nos atravessa a pele e cria regos que hidratam e desidratam ao mesmo tempo. Com a idade, a nossa pele envelhece com a fadiga e os traços que ela desenha, passam a fazer parte do meu rosto, dos rostos dos homens e das mulheres.

A fadiga é tão forte como a solidão e deixa marcas nos braços, nas pernas e nos ombros. Por isso nos curvamos com o peso da vontade dela.

Podíamos falar muito e mais dela, como se fosse um ser independente, como se, não a conhecendo bem, a conhecêssemos melhor que a ninguém. Podíamos falar, mas cansa-se-nos a voz e a fadiga aparece ao meu lado como uma sombra. Podíamos escrever mais, podíamos deixar de lado este sol abrasador, esquecer que a fadiga conflui no seio da pele, debaixo das camisas molhadas do suor.

Podíamos olhar para o horizonte, mas não se vê o fundo… até os olhos se querem fechar com a fadiga. O cansaço invade-nos e senta-se ao nosso lado. Os dedos param de escrever.

A fadiga esconde-se em nós do Sol, e na calma do Alentejo, deixemos repousar em banho maria as ideias que temos, como se fossem cubos de gelo sem derreter. Cansado, deixo a pena ao lado e adormeço na sombra do anseio de acordar descansado.