27 Fevereiro 2025      19:26

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A Europa portuguesa

Parece-me relativamente consensual a ideia do quanto Portugal avançou e se desenvolveu graças à entrada na União Europeia. Os dados mostram-no, a vida das pessoas confirmao. Comparando o nosso país com o que era no início da década de 80, a distância é tão grande que ao olhar para trás já não vemos o início do percurso.

Ainda assim, há um paradoxo inquietante: se a União Europeia é tão fundamental para o nosso progresso, porque sabemos tão pouco sobre ela?

O discurso contra a UE, ao contrário do que se vê noutros países, praticamente não existe por cá. E se há algo que a política moderna nos ensina é que, se houvesse espaço para um discurso eurocético, algum partido já o teria aproveitado.

Porém, independentemente de existir este consenso, é notório que o conhecimento que o comum dos cidadãos tem sobre a U.E é praticamente mínimo. Se perguntarmos à generalidade das pessoas de que forma é que esta está organizada, o que é um Comissário Europeu, o que faz um Eurodeputado, qual a diferença entre a Comissão e o Conselho e de que maneira é que é aprovada uma legislação europeia, apenas uma pequena parte das pessoas conseguiria responder corretamente a pelo menos uma destas questões.

Sem literacia europeia corremos o risco de ser apenas passageiros de um comboio que não sabemos para onde vai, nem quem o conduz.

Já é tempo de a literacia em relação a temas europeus aumentar, até porque uma parte significativa das leis que regem a nossa vida vem de Bruxelas A falta de conhecimento que existe não fica só por aqui. Os fundos europeus, fundos de que Portugal é beneficiário líquido, pois recebe mais do que contribui, são uma alavanca importantíssima no desenvolvimento dos países mais pobres, e é precisamente nas regiões mais pobres, como o Alentejo, que esse dinheiro se torna mais relevante.

Não podemos ignorar o impacto que os fundos comunitários tiveram na nossa região. Grandes obras públicas foram possíveis graças a este apoio, como a Barragem do Alqueva, que transformou a agricultura e a economia local. Mas não só: escolas foram construídas e reabilitadas, espaços públicos renovados, equipamentos culturais modernizados. A Europa tem sido um motor essencial no desenvolvimento da nossa terra.

O que me preocupa, no entanto, é o potencial desperdiçado. Os fundos europeus poderiam impulsionar ainda mais a nossa região, mas parecem estar longe de ser aproveitados ao máximo. Há oportunidades que ficam pelo caminho, projetos que não avançam por falta de conhecimento estratégico e técnico.

Para que os municípios possam tirar maior proveito deste financiamento, é essencial que as câmaras municipais invistam em equipas qualificadas, capazes de elaborar candidaturas sólidas e captar mais recursos para obras e infraestruturas. Da mesma forma, é fundamental que tanto as empresas públicas como privadas apostem na formação dos seus profissionais, garantindo que sabem como aceder aos apoios disponíveis. Sem este investimento em conhecimento, corremos o risco de ver escapar oportunidades que poderiam fazer toda a diferença para o futuro da nossa região.

As próximas eleições autárquicas representam uma oportunidade única para mudar este cenário e garantir que os fundos europeus sejam utilizados com todo o seu potencial. Cabe aos eleitores exigir autarquias mais preparadas, com equipas qualificadas e estratégias bem definidas para captar e aplicar estes recursos de forma eficiente. O desenvolvimento da nossa região não pode depender apenas da existência de financiamento, mas sim da capacidade de o transformar em progresso real, para que chegue às populações.

A Europa disponibiliza os recursos, mas é nossa responsabilidade aproveitá-los de forma eficaz, garantindo que se traduzem em progresso concreto e em melhorias reais para as populações.