5 Agosto 2020      10:20

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Estrutura anterior a Stonehenge descoberta em Reguengos de Monsaraz

Um “Woodhenge”, uma versão em madeira de Stonehenge mas com data anterior, foi descoberto em escavações arqueológicas no complexo dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz. A informação foi avançada pela empresa ERA – Arqueologia.

Em declarações à agência Lusa, o arqueólogo responsável, António Valera, revela que esta estrutura é “única na Pré-História da Península Ibérica”, e “seria composta por vários círculos concêntricos de paliçadas e alinhamentos de grandes postes ou troncos de madeira, a qual foi já exposta em cerca de um terço da sua planta”.

De acordo com o responsável, esta é “uma construção de carácter cerimonial”, conhecida apenas na Europa Central e nas Ilhas Britânicas com as designações de “Woodhenge”, “versões em madeira de Stonehenge”, ou “Timber Circles” (círculos de madeira). António Valera sublinha ainda que “esta é a primeira a ser identificada na Península Ibérica, estando datada entre 2800-2600 antes de Cristo (a.C.), ou seja, será anterior à construção em pedra de Stonehenge [em Inglaterra], para a qual se tem avançado uma cronologia em torno a 2500 a.C.”.

O arqueólogo evidencia também o “caráter cosmológico” desta estrutura, cujo possível acesso ao seu interior se encontra “orientado ao solstício de verão”, uma situação que também se verifica noutros “woodhenges” e “timber circles” europeus, “onde os alinhamentos astronómicos das entradas são frequentes, sublinhando a estreita relação entre estas arquiteturas e as visões do mundo neolíticas”.

António Valera realça igualmente que “esta descoberta reforça a já elevada importância científica do complexo de recintos dos Perdigões no contexto internacional dos estudos do Neolítico Europeu, aumentando simultaneamente a sua relevância patrimonial”, que foi reconhecida em 2019 com a classificação como Monumento Nacional.

A Era – Arqueologia, que escava no local há mais de 20 anos, vê este complexo “essencialmente como um grande centro de agregação de comunidade humanas, onde se desenvolveriam práticas cerimoniais, se geriam relações identitárias, culturais e políticas entre diferentes grupos”.

Além disso, a sua implantação na paisagem “é representativa do seu carácter cosmogónico”, situando-se “num anfiteatro natural, aberto ao vale da Ribeira de Vale do Álamo, onde se localiza uma das maiores concentrações de monumentos do megalitismo alentejanos. As entradas dos recintos mais exteriores, e outras em recintos mais interiores, estão orientadas aos solstícios ou aos equinócios, funcionando o horizonte para o qual está virado como um autêntico calendário anual do nascer do sol”.

Recorde-se que o sítio arqueológico abrange vários “recintos de tendência circular e concêntrica”, denominados fossos, que contemplam uma área de cerca de 16 hectares e um diâmetro máximo de cerca de 450 metros.

 

Fotografia por Publituris.