O grupo Esporão, da família Roquette, tomou a decisão de substituir 184 hectares de vinha por 182 hectares de olival biológico, numa “reorganização estratégica” apoiada numa “análise criteriosa das condições agrícolas e económicas”, que vai “otimizar a utilização do solo” na herdade do Alentejo, escreve o jornal ECO.
Segundo a mesma fonte, as uvas utilizadas na produção da marca Monte Velho “passaram a ser compradas [na totalidade] a fornecedores locais", com a empresa a salientar ao jornal que a aposta no azeite procura “reforçar a autonomia e rentabilidade” desta área de negócio que “está a crescer bem e provavelmente ganhará ainda mais espaço no futuro”.
Com esta mudança, o Esporão passa a possuir 430,5 hectares de vinha na região alentejana, um número que, para a empresa, é suficiente para fazer face às necessidades de vinhos de origem com a marca Esporão, totalmente abastecida com uvas próprias com certificação biológica.
A empresa, que tem liderança de João Roquette, explica que “esta operação está circunscrita ao Alentejo”, região que, em 2024, representou 84% das vendas do grupo nos vinhos de origem. Assim sendo, na Quinta dos Murças (Douro), que teve um peso de 10% e que foi adquirida pelo grupo no ano de 2008, e na Quinta do Ameal, que teve um peso de 6% e que foi comprada 10 anos depois na região dos Verdes, o plano passa por continuar a plantar e/ou reconverter vinha.
Em 2024, ano em que a faturação rondou, à semelhança do ano anterior, os 50 milhões de euros, os azeites já representaram 20% do total.
“Todos são elaborados com azeitonas do Alentejo, de olivais e variedades tradicionais, sendo laborados no nosso lagar da Herdade do Esporão”, destaca o grupo, referindo também que outra das possibilidades é o alargamento da gama de vinagres.
Três em cada quatro euros, o equivalente a 75%, foram, no ano passado, faturados através dos vinhos. As atividades turísticas tiveram um peso de 5%. A “base” encontra-se na região alentejana, onde possui dois restaurantes, um deles distinguido com estrela Michelin, visitas e loja. Na Quinta dos Murças e na Quinta do Ameal, a oferta inclui também alojamento. Num futuro próximo, a empresa vai também abrir um “novo projeto [de enoturismo] em Lisboa”, mais concretamente no Instituto Superior de Agronomia (ISA).
Em relação às vendas esperadas em 2025, fonte oficial do grupo revelou, segundo o ECO, que está previsto um crescimento na ordem dos 5%, impulsionado especialmente pelo azeite e pelo turismo. No vinho, o maior impulso chegará da subida “acelerada” na região dos Verdes, que poderá ser explicada pela “crescente procura por vinhos brancos leves, frescos e com menos teor alcoólico” e ainda pelo “alargamento de distribuição e aumento de notoriedade da Quinta do Ameal e [da marca] Bico Amarelo”.
A exportação, feita para aproximadamente 40 mercados, entre os quais se destacam o Brasil, os Estados Unidos da América e o Canadá, rendeu mais de 60% das receitas de vinhos no ano passado.
O grupo avaliou também o impacto da possível subida das tarifas aduaneiras levada a cabo pela administração Trump.
“Penalizadora para os consumidores norte-americanos e com uma possível contração no consumo de vinhos importados. Dito isto, Portugal, pela sua pequena quota de mercado e pela relação preço-qualidade que pode oferecer, está numa posição melhor versus os seus concorrentes mais diretos”, avança, segundo o ECO.
A família Roquette tomou a decisão, em 2018, de diversificar o portefólio nas bebidas, através da aquisição da companhia “Os três Cervejeiros”, da cidade do Porto, que se dedicava à produção e à comercialização das cervejas artesanais da marca Sovina, projeto que, atualmente, “não está a andar tão bem”. Ainda assim, “não existem planos ou propostas” para que a empresa deixe de ser controlada pela família, garantiu.
Quando foi efetuada a compra, João Roquette declarou que o objetivo passava por faturar dois milhões de euros em cinco anos. Contudo, passados esses cinco anos, o CEO assume ao jornal que esse negócio “não está a andar tão bem como [previa]”, apontando “desafios do lado da distribuição”, mas tendo a expectativa de que algumas das alterações efetuadas em 2024 tenham “impacto” já este ano.
“Os desafios da Sovina passam pela necessidade de ampliar a presença da marca e garantir uma maior acessibilidade ao consumidor. No último ano, a transição para a Herdade do Esporão trouxe novas oportunidades e sinergias, permitindo um alinhamento mais estratégico com o Esporão. Paralelamente, foram estabelecidas novas parcerias para reforçar a distribuição, garantindo que chega a mais pontos de venda e ao público certo, mantendo o foco na qualidade e autenticidade que caracterizam a marca”, esclarece a proprietária da cervejeira.
Outra alteração recente passou pela incorporação da sociedade Esporão Produção Biológica Lda. na Esporão SA, efetivada no final de 2024. No projeto de fusão, consultado pelo jornal ECO, escreve-se que “a alteração da atividade da empresa que se pretendeu implementar no final de 2023 não se veio, afinal, a revelar frutífera, não se justificando a sua continuidade de forma autónoma no grupo”.
A atividade da Esporão Produção Biológica, fundada para a gestão e a exploração dos ativos biológicos do grupo, foi, no ano de 2021, transferida para a Esporão SA e para a Murças SA. Esta alteração fez com que a empresa explorasse “novas oportunidades, incluindo um plano estratégico para obter uma licença de cultivo de canábis para fins medicinais, que acabou por ser abandonado por questões de mercado”, assumiu.
No início do ano passado, a empresa chegou a reorientar “a sua atividade para a consultoria estratégica, ambiental e tecnológica no setor agrícola, procurando garantir a sua viabilidade económica”. Ainda assim, “a falta de oportunidades com escala relevante levou à decisão de integrar a empresa na Esporão SA, através de fusão”, no final de 2024, concluiu o grupo.
Fotografia de agroportal.pt