10 Fevereiro 2018      12:12

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ESFEROVITE

Certo dia, uma recém-deslocada empresa do sector de escritório para o Brasil, decidiu pôr o seu recém-chegado empregado de encomendas, Pedro, português a reabastecer o armazém. Não era longa a lista, mas não foi fácil a execução da tarefa. A encomenda devia ser feita com a central de abastecimento do Maranhão e Pedro era um homem destemido nas suas tarefas, cumpridor, rápido e eficaz. Não era nada complicado, pensou. E assim não foi.

Ao telefone, chamada de um indicativo local para o outro, rápido se transformou numa coisa mais parecia transatlântica. O propósito, que era terminar uma encomenda, descarrilou lá pelo meio da conversa, e quase parecia não se concretizar. Depois daquelas coisas mais vulgares, a empresa tinha de pôr no carregamento a partir no correio, rapidamente. Eram precisas quatro paletes, 20 rolos de fita adesiva e dois toner para a fotocopiadora, umas 50 resmas de papel e para terminar 10 garrafas de lixívia.

O pobre encarregado das encomendas, recém-chegado ao Brasil, ido lá da Europa, terras de Portugal, dava voltas à cabeça para explicar à funcionária do outro lado do telefone, aquilo que o tio, português e seu patrão lhe tinha pedido para encomendar. Olhe que a encomenda é grande. Primeiro, são quatro paletes de esferovite. Oi? Não estou entendendo. O que é isso de esferovite? - perguntava a voz do outro lado, com aquele sotaque doce a maresia e calor tropical. Então, esferovite é esferovite. Como é que eu lhe hei de explicar isto? É uma coisa que se põe, assim, no meio e ao lado das coisas para elas não se riscarem, para estarem protegidas, numa caixa, está a ver? - Ah, não estou vendo. De que cor é? É branco. Ah, você quer dizer plástico? Não, é mesmo esferovite, umas bolinhas que estão juntas e ficam fortes e aparecem em quase todas as encomendas. - Ah, não estou entendo não moço. Você pode-me enviar uma fotografia? Fotografia não tenho, mas é muito fácil. Façamos assim, imagine que compra um televisor. – Eh comprei um na semana passada. – Então, ótimo, vinha com um produto que protegia e não deixava mexer dentro da caixa, não vinha? - Vinha sim, mas isso não é esferovite, não. É isso por. Isso, esferovite. Quanto é então? São quatro paletes. – Anotei. Seguinte…

Bem, também preciso de dois toner para a fotocopiadora. O que é uma fotocopiadora? Onde faz fotocópias de um documento. Ah sim, mas aqui não é isso não, chama-se Xerox. Mas Xerox é a marca…ah aqui não é não. Mas sabe o que é? Toner sei sim…claro E resmas de papel? 50? – Também sei. – Que bom, ainda bem.

Ora diga o que mais vai querer? - Lixívia? Ui, deu erro de novo. O que é isso de lixívia menino? – Bem, lixívia é um produto muito forte para limpar o chão, casas de banho, desinfetar. Tem um cheiro muito forte e arde. Entre outras marcas em Portugal, há a Neoblanc. – Porque não falou logo água sanitária. Assim já sabia o que é.

- Mas eu nunca ouvi falar em água sanitária. – Ouviu agora e aposto que não vai mais esquecer. – Isso pode crer que não… água sanitária. Bem, só já falta uma encomenda, são 20 rolos de fita adesiva, ou melhor fita-cola para não complicar. Oi? Estragou tudo. Não estou entendendo de novo.

– Ai… agora como é que explico isto. É uma fita que se usa para fechar caixas e tem adesivo… está a ver? Eh já sei, sem problema. Você quer Durex.

Durex? Não… quero fita-cola. Durex são preservativos… - Não, não é para a comida não. É para a pôr na caixa e fechar tudo. - Ahn?? Não, em Português é uma marca de preservativos…anticoncecionais e para evitar doenças sexualmente transmissíveis. (Risada longa do outro lado). –Nossa, não me diga que Durex são camisinhas. Aqui no Brasil é fita-cola como vocês falam (risada longa). Que curiosa nossa língua. Encomenda feita.

- Custou mais foi. Muito obrigado! E não esqueça a esferovite.

- Oi?

 

Imagem de korivouga.com