28 Agosto 2022      11:01

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Alcácer do Sal: Descobertas sepulturas de Cavaleiros da Ordem de Santiago

Por Joana Casca

No âmbito da escavação arqueológica que o Setor de Arqueologia, Património e Museus da Câmara Municipal de Alcácer do Sal está a realizar na Capela do Tesouro, no Santuário do Senhor dos Mártires, foram encontrados vários achados de grande valor para a história de Alcácer e do monumento, que foi o primeiro Panteão da Ordem de Santiago em Portugal.

O Santuário do Senhor dos Mártires, contempla um conjunto de capelas datadas do século XIII ao século XVIII, todas elas classificadas como monumentos. Foi na Capela do Tesouro que a Ordem de Santiago contruiu o seu panteão, no século XIII e, mais tarde, a Capela dos Mestres, onde estão enterrados pelos menos quatros mestres da Ordem. A Capela dos Tesouros continua a ser considerado panteão, apesar de não se saber ao certo quem foi enterrado naquele local.  

De acordo com declarações da Autarquia de Alcácer do Sal, esta Ordem Militar foi essencial para a reconquista Cristã de Portugal. A cidade de Alcácer do Sal foi escolhida para os cavaleiros dessa mesma ordem se fixarem e, por esse mesmo motivo, a sua importância sempre foi reconhecida, tal como a possibilidade de se encontrarem na capela achados importantes, visto que a mesma serviu para enterrar cavaleiros da Ordem.

Foi devido à necessidade de intervenção no piso da Capela do Tesouro que se procedeu à escavação na íntegra do interior da mesma. De acordo com a Autarquia, os resultados destas escavações têm vindo a revolucionar todo o conhecimento sobre a Capela. Os técnicos já se depararam, no decorrer das escavações, com alguns enterramentos humanos, que serão, ao que tudo indica, Cavaleiros da Ordem de Santiago.

O ritual funerário e o espólio encontrado confirmam que o monumento era utilizado como panteão da Ordem de Santiago, devido à “inumação selecionada de mestres e altos responsáveis da Ordem”, afirma o Município.

Os técnicos do Município depararam-se com enterramentos decapitados e sem ambas as mãos e outros exibindo graves lesões traumáticas e marcas de violência. O estado em que se encontravam leva a crer que estes monges estiveram envolvidos em situações de conflito, como batalhas contra os muçulmanos. Junto aos corpos foram também encontrados vários objetos, como por exemplo: crucifixos, anéis, botões, pregadeiras, azulejos medievais, moedas de vários reis, madeira e até menos alguns vestígios de tecido.

Nas declarações do Município, são destacados dois dos sepultamentos. Um deles por ter cinco moedas de reis (D. Dinis, D. Afonso III e D. Afonso Henriques) em diferentes locais do esqueleto. É feita menção a uma moeda de D. Afonso Henriques, colocada na zona do tórax, coração. “Pelo número de moedas, monarcas representados e pela simbologia que encerra a sua deposição como objetos votivos, é inédito em contexto português.”, afirma a autarquia nas declarações prestadas.

O segundo sepultamento destacado pelo Município de Alcácer do Sal, é datado do século XIII, e pertence a um individuo que terá sido inumado em caixão, algo que era raro na época, que estaria calçado com duas esporas, que contêm uma decoração sublime, com representações de animais. De acordo com as declarações da autarquia, o esqueleto pertence a um cavaleiro.

Ainda não terminadas, as escavações já permitiram obter dados que parecem reescrever não só a história de Alcácer, mas também o início da história de Portugal, da Ordem militar de Santiago e dos cavaleiros medievais.

Os esqueletos encontrados durante as escavações estão a ser estudados por uma antropóloga do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.