A escada

Subiu, subiu, subiu. Quando pensava que ia começar a ver o fim da escada, eis que as nuvens se sobrepunham e tapavam tudo. A escada, assim, parecia não ter fim. Talvez a nossa personagem procurasse algo que não tem fim, algo que não termine e seja só interrompido por uma camada densa de nuvens que dão a ideia de se ter chegado ao céu. O paraíso fica depois das nuvens que o escondem.

Nem sempre as escadas ascendem ao céu, nem sempre chegam a lugar algum ou têm um propósito de existir. Acontece a tantos elementos naturais ou de construção humana que, por muito que pensemos, não nos apercebemos. A escada é um mistério. Um enigma em degraus que sobe e desce, que necessariamente terá um princípio e um fim. Afinal, no final, tudo tem. Pensar no enigma que se pode encontrar ou envolver através de uma escada será como criar uma narrativa alternativa ao pensamento do real. Que tipos de escadas se podem construir? Para quantas arranjamos definições particulares, mais ou menos objetivas. A escada de metal, a escada de madeira, uma escada de pedra.

Na nossa vida profissional, pessoal, académica e emocional, todos temos uma escada, ainda que não a reconheçamos ou a pensemos como tal.

Há sempre em nós um objetivo que procuramos subir, como se fosse um degrau. Depois desse, subimos outro, descansamos, suspiramos de alívio e consternação, pensando já no próximo passo que se aproxima. Um atrás do outro. Como os nossos primeiros passos, há coisas que se constroem e outras que se destroem. Caminhamos, caímos, voltamos a caminhar e a cair de novo. Como qualquer escada, tudo acontece na medida correta e se há alguma falha, o Universo acaba por corrigir essa diferença. As escadas e o Universo são duas faces da mesma moeda, onde os homens são meros peões.

Pensemos nas nossas escadas, as que já existem e nos dificultam e aquelas que construímos para nos ajudar. Tantas vezes nos falam em pontes e aquilo que elas podem construir. Se uma ponte pode ultrapassar um rio, imaginemos o quanto não pode uma escada ajudar a subir até à mais alta montanha, nesse lugar onde queremos colocar o nosso espírito.

A escada facilita a subida, embora possa causar a queda com graves consequências, mas em todos os momentos, como as teclas de um piano, na vertical, um novo mundo abre-se a cada passo, a cada degrau, a cada tecla.

A escada é o início e o final de um ou qualquer percurso que percorremos. Subir implica passos cronometrados. Subir implica que sejamos conscientes da subida, da descida e da queda.

Desceu, desceu, a partir do ponto onde sabia que não poderia subir mais e não se iludiria pelo último degrau além das nuvens.

Desceu e foi feliz. O que o esperava além nunca o saberá. Porém, essa incerteza não lhe ocupa o pensamento. Vive feliz no conhecimento dos degraus que conhece.