A empresa Lãmb, localizada em Sousel, usa lã de borrego, com pouca utilidade e em consequente desvalorização no mercado, como recheio de edredões ou camas para cão ou gato.
Em declarações à agência Lusa, Ricardo Machado, um dos sócios da empresa, afirma que “é o único edredão de lã de borrego que existe”, salientando que “tudo é feito em Portugal, não há nada importado e estamos a começar a exportar”.
Ricardo Machado conta que a marca “nasceu” de uma parceria entre a Herdade de Vale Feitoso, em Idanha-a-Nova, concelho de Castelo Branco, de que é proprietário, e a empresa Pasto Alentejano, de Sousel, que comercializa borregos.
“Tosquiar uma ovelha custa bastante dinheiro” aos criadores de ovinos e “não tinha qualquer rendimento, porque até aqui a lã não era valorizada”, mas o cenário está a mudar, graças a novas soluções para este produto natural, destaca o responsável.
Segundo o empresário, os borregos são tosquiados em Sousel e a lã é transportada para a Guarda, onde é lavada, e, depois, para a indústria têxtil no norte do país, para ser fiada e onde os edredões são confecionados.
“É um produto verdadeiramente português”, realça o também criador de ovinos, que possui cerca de 2.500 ovelhas, notando igualmente que este é 100% lã de borrego, enquanto outros edredões no mercado são produzidos com fibras sintéticas.
Assinalando que estas coberturas acolchoadas de cama começaram a ser vendidas no final de 2024, Ricardo Machado refere que as vendas da primeira remessa, que foi de teste, foram um sucesso e acabaram por “esgotar praticamente em menos de um mês”.
“Este ano, já vamos ter lã que dá para fazer muitos edredões”, assinala, revelando que se prevê a utilização de cerca de 80 toneladas. Além do mercado interno, a Lãmb já está a preparar-se para exportar, nomeadamente para Inglaterra e França.
As mantas de lã caíram em desuso, argumenta o empresário, frisando que o este novo produto “consegue ter a mesma qualidade e é melhor ainda do que o edredão de penas”. E, tal como antigamente, “pode ser geracional”.
A Lãmb está, em conjunto com outros parceiros, como universidades, a testar novos produtos confecionados à base de lã de borrego nas áreas do vestuário, construção civil e arte, que se prevê serem lançados no mercado até ao final deste ano.
“E isto é o princípio do que nós achamos que é uma solução integrada que vai, sem dúvida, ajudar o mundo rural”, sublinha.
Também a ACOS – Associação de Agricultores do Sul, com sede em Beja e promotora da Ovibeja, uniu esforços com a artesã, investigadora e empresária Rosa Pomar que, depois, lança peças feitas com lã de ovelha da raça campaniça.
“Felizmente, para os produtores da raça campaniça, tem sido uma lufada de ar fresco termos a Rosa Pomar a trabalhar connosco, porque, apesar de estar neste mercado difícil, faz questão de valorizar a lã e que essa valorização se repercuta no produtor”, observa Miguel Madeira, vice-presidente da ACOS e criador deste tipo de ovinos.
Novelos de fio e peças têxteis são alguns dos artigos desenvolvidos por Rosa Pomar. Em exposição e à venda na Ovibeja estão outros feitos de lã feltrada, com a própria marca da feira e da autora, como mangas térmicas para garrafas de vinho ou estojos para lápis e canetas.
Com esse trabalho, acrescenta Miguel Madeira, a artesã “consegue escoar a quase totalidade” dos 20 mil quilos da lã produzida pelo efetivo total de 10 mil ovelhas da raça campaniça.
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