28 Março 2016      12:37

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EGOS

"AO CORRER DA PENA"

Há dias assisti a uma cena caricata.

Alguém numa situação no trânsito em vez de reconhecer o erro (circulação indevida na faixa da esquerda) optou por mostrar a cédula profissional à pessoa que a estava a alertar sem que esta lhe tenha faltado sequer ao respeito.

Fiquei a pensar se tal acto foi para amedrontar o terceiro ou se foi apenas para alimentar o ego da pessoa visada.

A mim causou-me uns bons momentos de boa disposição. Ao terceiro creio que nem isso pois não se mostrou minimamente preocupado e seguiu o seu caminho.

Tal como afirmei em crónica anterior, andamos tão centrados em nós e na nossa enorme importância para a sociedade, que não paramos um minuto para pensar minimamente nas atitudes que estamos a tomar ou, no caso concreto, no ridículo em que se acaba por cair.

Infelizmente, ainda vivemos numa sociedade de Drs em que, muitas vezes, quem tem um canudo se acha a maior e mais experiente pessoa do mundo e se tenta aproveitar de terceiros com formação diferente ou de grau inferior ao seu.

Só isso pode explicar (ou pelo menos ajudar a perceber) atitudes como a acima descritas em que alguém se acha no direito de ameaçar outrem apenas porque tem determinada cédula profissional ou algum estatuto adquirido.

O que é facto é que, embora existam pessoas para as quais a cédula ou o diploma constitui uma honra e uma responsabilidade acrescida no cumprimento das suas funções, para outras apenas serve para mostrar estatuto.

Do trânsito para a realidade, o que é certo é que esta separação entre donos disto tudo e os restantes continua a ser feita.

Uns mandam e dispõem como lhes apetece e melhor aprouver para ganharem mais com menos recursos e outros sujeitam-se a salários humilhantes para poderem continuar a sustentar-se pois recusam alinhar em esquemas e atitudes de “lambe-botismo”.

O paradigma tem que mudar.

Algumas empresas em Portugal já começaram um rumo diferente, cortando com os Drs e privilegiando o tratamento pelos nomes próprios, numa atitude de proximidade em que, através de métodos adequados, não se perde a competitividade necessária para o crescimento do negócio.

Na maioria, continua a existir o Sr. Dr., no seu gabinete, a por e dispor baseado em números e tabelas de Excel.

Portugal tem e merece crescer, tal como as suas empresas, no entanto, enquanto alguns egos não diminuírem, continuaremos a assistir a situações em que um cartão parece dar um poder desconhecido a determinada pessoa, pelo menos perante desconhecidos.

 

Imagem daqui