10 Abril 2016      15:26

Está aqui

EÇA VISTO PELO INVISÍVEL

"PALAVRAS SOLTAS"

Eça de Queirós é, na ótica desse dito escritorzinho com nome de besta, que anda por aí a vaguear nas terras alentejanas, às quais quer à força pertencer, ainda que ocupe um livro a repeli-las, um escritor  “cínico e falso”, palavras do próprio.

Pergunto-me eu, Raposo, onde andaste tu, quando nas minhas aulas do liceu, ou entre um café cujo sabor se imiscuía com as sombras do tabaco no ar, se falava em Literatura? Sim, meu caro, de Literatura! Essa coisa nefasta e repulsiva que anda por aí à espreita das brechas da sociedade para se aproveitar delas… Sacana da Literatura!

Devias estar lá na tua casa a refletir sobre os teus antepassados, tu que és tão sábio, tão adulto, tão culto e tão bom escritor... tão distinto de mim! Tu que és homem que escreve sobre temas que causarão atrito! Tu o novo prodígio da literatura de horror, ups! De atrito e de reflexão, como bem dirias. Ou será, que também tu, estavas num belo liceu a ouvir um professor que te dizia as maravilhas do mundo literário, a ponto de te motivar a enredares-te nas teias promiscuas do mesmo?

Dir-te-ei onde eu estava e com quem estava… estava com um mestre! Não com um professor, que desses há muitos! Estava com um ser humano que me ensinou que a escola era a casa da arte e a vida o palco dela! E foi esse mestre que me viciou em Eça! Que me viciou na procura pelo progresso, pela melhoria, pela emotividade da escrita!

Sabes qual a razão de Eça ser, às tua palavras “cínico e falso” ? Não meu caro, não é porque ele deva ser enfiado e contido num livro destruído por ratos na biblioteca onde brilhem, elevados os livros de Camilo. É porque tu, tu simplesmente não sabes apreciar a vida, a arte ou a literatura, tal como não sabes apreciar o Alentejo! Porque entre as linhas de Amor de Perdição, se te cegaram os olhos, para leres as entrelinhas de Eça! Porque olhas para Eça e morrias de felicidade se ele fosse alentejano! Porque assim terias a desculpa perfeita para crucificares outro dos mestres que por cá viveu!

Mas ao contrário de ti, que foste elevado pelo ódio e não pelo talento, ele, aquele senhor distinto cuja caneta transcrevia um ironismo que tu não conseguiste decifrar, triunfou, brilhou e será amado e respeitado!

Gosto de Camilo, para que conste, da sua verdade e do seu retrato do real pensamento e da real vivência humana, mas tal como não combato a tua falta de talento com a queima das tuas obras, não assassino um artista, contrapondo-lhe outro.

Queres um conselho meu amigo? Deixa o Alentejo na sua quieta inquietude e deixa o Eça na prateleira, já que os não sabes apreciar a ambos, ao menos não os infetes com o teu pouco sentido de humanismo e com a tua noção tão pouco desenvolvida de Literatura. (Há quem realmente saiba viver e apreciar o que o mundo nos fornece enquanto instrumentos, sabes?)

 

 

Imagem daqui