23 Junho 2020      09:11

Está aqui

E agora?

Vivemos numa altura sem precedentes, em que enfrentamos uma pandemia que se espalha com uma tremenda rapidez, cujo principal foco de transmissão se dá através do contacto social. 

Estivemos confinados, assistimos a países onde o caos se instaurou, onde as mortes aumentaram dia após dia, assistimos a milhares de profissionais de saúde contagiados, profissionais de saúde exaustos, a lutar pelo mundo, a lutar por nós.

Tivemos tudo e, de repente, não tínhamos nada, nem a nossa “liberdade”, nem a nossa rotina, nada do que sempre demos por adquirido.

Vimos tudo, vivemos tudo. Tudo a acontecer mesmo debaixo dos nossos narizes.

As cidades vazias, as ruas desertas, os estabelecimentos comerciais fechados, uma vida sem cor, brilho ou luz. Uma vida que, muitas vezes, não parecia vida, mas que era necessária, que era aquilo que não nos fazia desvanecer.

Findo o Estado de Emergência e começado o desconfinamento, encontramo-nos perante a pergunta mais óbvia: e agora?

E agora que estivemos meses fechados, com ensino e trabalho à distância, sem poder ir às lojas, sem poder ir aos restaurantes, sem poder ir à praia, sem poder circular para fora da nossa localidade? E agora? Agora que, de repente, voltamos a sentir que tudo isso está ao nosso alcance?

Agora assistimos a um país que, se por muito tempo se pôde orgulhar por ter lidado com a pandemia de uma forma exemplar, de uma forma que merece elogios, não pode mais. Agora vemos o extremo do desconfinar, vemos o descuido, o desleixo, e a descrença e desvalorização nas medidas de segurança propostas pela DGS.

Sim, desconfinámos, sim tivemos oportunidade de rever familiares, amigos, com as devidas distâncias e medidas que nos permitem cuidar a nossa saúde e a saúde dos restantes.

Mas não, o Covid-19 não desapareceu. Não desapareceu e fez questão de nos dar sinais de que está bem vivo.

De facto, depois de tanto tempo fechados e com receio desta doença que nos assola, conseguimos ter uma maior liberdade e, pouco a pouco, pudemos voltar a sair de casa e a fazer coisas antes banais, que agora parecem ser uma dádiva, como ir jantar fora. Contudo, se hoje nos permitem este tipo de lazer, fazem-no através de normas de segurança como a distância, lotação máxima, uso de máscara, entre outros. Se nos deram possibilidade de tanto ao lado do que já foi nada, porque é que não nos contentamos? Porque é que não colocamos a nossa segurança e a dos que nos rodeiam em primeiro? Por uma sede imensurável de convívio, uma sede imensurável de um bom bronzeado ou de umas boas férias, uma sede imensurável de uma festarola?

E agora? Agora que estávamos num bom caminho, agora que víamos alguma luz ao fundo do túnel que nos é desconhecido? Agora a prioridade são festas? Ajuntamentos? Não aprendemos nada? Não crescemos nada durante estes últimos meses?

O Covid-19 não desapareceu. Não desapareceu e fez questão de nos dar sinais de que está bem vivo.

 

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Leonor de Matos Pereira, nascida em Évora, 21 anos, estudante do 3º da Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. 

Atual membro do Conselho Fiscal da Associação Académica da Faculdade de Direito.