8 Maio 2020      15:11

Está aqui

Desconfinar o poder de acreditar

Há dois meses estávamos nas escolas. Abraçávamo-nos uns aos outros. Sentávamo-nos em círculo e as crianças poisavam a cabeça nos ombros umas das outras, enquanto pensavam em voz alta sobre a atitude do João, que mexia nas coisas dos outros sem pedir, ou da Maria, que todos os dias amuava no recreio.

A vida como sempre fora.

Fazíamos planos.

Em breve seria lançado outro livro da Sociedade do Bem, desta vez para ensinar às crianças o que são as emoções. O Pedro ilustrava uma proposta para a capa e a Marina ligava-me todos os dias para acertar pormenores. O lançamento seria na Festa da Família, este mês, na Fundação Eugénio de Almeida.

Entretanto a Carla e a Teresa ensaiavam algumas turmas que iriam adaptar para teatro histórias do livro. A Margarida estava radiante com o papel de Toupeira Bíbi. A Clara, feliz por ser a Bá.

O último dia em que fui a uma escola foi para ensaiar as crianças para o grande dia! Lá fora, o sol brilhava. Encontrei os miúdos a aproveitar o calor à hora do intervalo. O Duarte veio a correr ver o que estava dentro da caixa que eu levava na mão. Ao ver que eram bichos da seda, contou-me que os seus voaram pela janela quando se transformaram em mariposas..

Acreditava naquela história contada pelos pais, para o proteger da tristeza de saber mortos os seus bichos agora com asas, com a mesma candura de quem acreditava que o Pai Natal todos os anos lhe trazia um presente ou que a Fada dos Dentes lhe deixava uma moeda debaixo da almofada em troca de um dente de leite.

Haverá tempo para que entenda que a vida não tem a magia da infância. Até lá, o Duarte, tal como todas as crianças, acredita no que os adultos lhe dizem.

Acredita que aquele Pai Natal com uma barba presa com um elástico, veio mesmo de tão longe no seu trenó só para fazer as crianças felizes. Acredita que aquele desenho que ofereceu à mãe é o mais bonito de todos os desenhos e que é por isso que merece um lugar de destaque na parede da sala. E acredita que ele pode vir a ser quem quiser ser, porque todas as possibilidades estão em aberto.

E numa época em que a vida já não é o que sempre foi, os pais e as mães quiseram, mais que nunca, proteger os seus filhos. Dar-lhes esperança. Fazê-los acreditar que um dia, vai ficar tudo bem. E eles acreditaram e desenharam arco-íris e colaram-nos à janela. Porque um dia, a luz do sol acabará por bater nas gotas de água desta chuva assustadora que nos caiu em cima e o arco-íris aparecerá em todo o seu esplendor.

E sabe tão bem acreditar nisso.

www.sociedadedobem.org