26 Dezembro 2017      10:03

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DESCOMPLIQUEMOS UTOPIAS

Há muito tempo que assuntos ligados aos refugiados passaram para um plano inferior na nossa comunicação social. Mas a verdade é que eles continuam a existir, há barcos que continuam a fazer-se ao mar e os naufrágios a acontecer; há etnias que continuam a ser perseguidas e outras que vão sendo exterminadas; existem milhares de seres humanos deslocados dos seus países pelas mais diversas razões. O tempo vai passando, os acontecimentos vão-se repetindo e a normalidade instala-se.

As singularidades do assunto em conjunto com a pluralidade das retóricas hospedam-se nas nossas “estáveis” vidas.

Os governos europeus reagem com leviandade; sabemos que é difícil pensar sobre algo em que não existe afinidade. Assim, os experimentalismos tomam conta do quotidiano mas continuam a esquecer os direitos humanos.

Muitas vezes no centro destes dramas as religiões assumem o papel principal. Como ateia vejo o papel das religiões como uma das causas inibidoras do desenvolvimento das sociedades. Mas, juntamente com as religiões, as políticas mercantilistas continuam a controlar os regimes e as vidas das pessoas.

Admiro, particularmente, pessoas livres e com pensamentos descomprometidos; gosto de questionamentos e por vezes identifico-me com algumas subversões. Ultimamente, por mais que procure dificilmente encontro na Europa quem satisfaça este meu sentimento. Todas as práticas políticas, na tentativa de minimizar o problema, continuam a confrontarem-se com os interesses estabelecidos, continuam a não ter força suficiente para colocar, no lugar dos muros, pontes de entendimentos credíveis. Estas legitimações construídas em torno de indecisões, tendem a ser consumidas pelos interesses consubstanciados em regimes egocêntricos.

É imperioso legitimar políticas alternativas, politicas em que o Homem seja apenas o Homem e não o representante de uma determinada religião etnia ou nação. Torna-se premente reclamar políticas transnacionais em que os direitos humanos sejam o pilar das ações.

Se existe uma necessidade de rotura sistémica então que a assumamos. São, muitas vezes, as reflexões inconformistas das sociedades que nos ajudam a crescer, são as utopias que nos fazem cogitar.

Imagem de capa de Reuters/Umit Bektas, da qz.com