28 Fevereiro 2020      11:08

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Descobrir a bolota, uma dádiva do Montado, em Arraiolos

A bolota, de paladar único, é um fruto cujas propriedades começam agora a ser redescobertas: sem glúten, com alto poder antioxidante, uma gordura semelhante à do azeite e compostos assaz úteis à saúde. O “pão dos pobres” ganha protagonismo como um alimento do futuro, o que constitui também um sinal de esperança para a recuperação do montando, em particular o de azinho, já que as bolotas da azinheira são as mais doces.
 
O programa do fim-de-semana Terras sem Sombra em Arraiolos termina com a habitual acção de salvaguarda da biodiversidade (1 de Março, 9h30). Desta feita, o tema é a bolota e as suas virtudes numa apresentação feita no Moinho de Pisões, em Aldeia da Serra, por três especialistas: José Mira Potes (engenheiro zootécnico), Teresa Rita Barrocas (empresária) e Ana Fonseca (investigadora). A bolota – fruto da azinheira, do sobreiro e do carvalho – tem um lugar fundamental na criação do gado, sobretudo o porcino, conferindo grande qualidade à sua carne. Mas as variedades mais doces assumiram também importância na alimentação humana. Os antigos povos europeus consumiam-na na íntegra, moíam-na para obter farinha empregue na confecção de pão ou maceravam-na em água, de que resultava uma bebida fermentada, muito nutritiva, comparável à cerveja.

Na gastronomia tradicional, sobrevivem reminiscências desses usos, sendo a bolota empregue como complemento ou petisco. As populações rurais consomem-nas cruas ou assadas. Também era usual venderem-se, nas feiras, enfiadas de bolotas bem secas (aveladas) ou torradas. Noutros tempos, extraiu-se também óleo da bolota. Agora, em tempos em que uma nutrição mais natural ganha destaque, assiste-se à redescoberta de tão nobre, mas esquecido, fruto, cujo paladar é, de certo modo, único: sem glúten, com alto poder antioxidante, uma gordura semelhante à do azeite e compostos assaz úteis à saúde. O “pão dos pobres” ganha protagonismo como um alimento do futuro, o que constitui também um sinal de esperança para a recuperação do montando, em particular o de azinho, já que as bolotas da azinheira são as mais doces.

Em 2020, a 16.ª temporada do Terras sem Sombra decorrerá entre Janeiro e Julho, mantendo a sua programação centrada na música clássica, património e biodiversidade. O Festival vai percorrer os concelhos de Vidigueira, Barrancos, Mértola, Arraiolos, Viana do Alentejo, Beja, Ferreira do Alentejo, Castelo de Vide, Sines, Alter do Chão, Campo Maior, Santiago do Cacém e Odemira.