25 Março 2023      11:56

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As derrotas custam sempre

Encarar os fracassos da nossa existência tem sempre um preço a pagar. No momento em que a desilusão chega, há que digerir os percalços e seguir em frente, com lucidez possível e a necessidade imperiosa de extrair ilações sobre o sucedido. Porque perdemos? Quais as razões objetivas que conduziram a esse desfecho? A quem atribuir as culpas? Sim, porque tem que haver sempre um culpado. Ou talvez não. Circunstâncias da vida ou ironias do destino, dirão alguns.

Estes pensamentos  surgem invariavelmente, nas mais diversas vertentes da vida. Seja no futebol, na política, na vida pessoal.  Há expectativas que se criam, mas o risco de serem defraudadas é sempre enorme. Nem tudo corre como desejamos ou planeámos. E quando assim é, nada melhor do que meter “a viola no saco” e seguir noutra direção, com novos horizontes.

Por isso, há que encarar com realismo todos os desfechos possíveis, não perdendo a esperança, mas não alimentando demasiado as ilusões, pois podem não passar de utopias. Os anos dão-nos aprendizagem e experiência. A espuma dos dias traz lições. As memórias convertem-se em tesouros. A convivência com os outros aporta ensinamentos, que se tornam vantagens para lidar com as adversidades.

As derrotas surgem, inevitavelmente. Fazem parte da realidade. No entanto, a forma como encaramos essas vicissitudes é que determina o nosso futuro. Em muitos casos, geram mudanças que são inevitáveis e necessárias, ainda que esse balanço só seja feito posteriormente, passado muito tempo. Ou olhamos para os nossos próprios erros, para as nossas falhas e limitações e as tentamos corrigir, ou apontamos o dedo aos outros, culpabilizando-os sobre o nosso próprio infortúnio, como se não fossemos os principais responsáveis por ele. A autocrítica é sempre necessária, mas nem sempre está presente. E os outros também podem ser melhores do que nós.

As culpas, por muito que nos custe, têm que ser sempre repartidas, emboras por vezes com percentagens diferentes. Uma outra hipótese é o encerramento na nossa própria decepção, na amargura e na revolta, por tudo aquilo em que um dia acreditámos e em que tanto investimos não ter passado de uma mera ilusão.

Mas será a essa solidão uma saída airosa? Uma concha fechada resolve os problemas? A fuga para um ermitério espiritual é alternativa, convivendo unicamente com os nossos medos e os nossos fantasmas pode ser uma opção? Penso que não... A solidão, em certos momentos, pode ser benéfica para uma reflexão ponderada sobre as nossas próprias ações. O silêncio também faz falta. Mas em dose controlada e com equilíbrio.

Para cada insucesso, deve vir uma força redobrada para enfrentar novos desafios, sempre com disponibilidade para reconhecer os erros e melhorar, na medida do possível. São muitos os exemplos de poetas e pensadores que encontraram nas derrotas pessoais a inspiração para as suas obras mais notáveis. Em alguns casos, o destino depende sempre da nossa atitude perante a vida. Há seguramente imponderáveis que não podemos controlar.

Dir-me-ão que falar é fácil. Mas outra pergunta se coloca: qual a alternativa? As regras do jogo são estas e a aprendizagem e os anos vão fazendo com que os dissabores, apesar de dolorosos, possam ser ultrapassados na medida das possibilidades, sempre com determinação e coragem.

Mas este texto é apenas um exercício teórico, um mero pensamento e não um manual de boas práticas, porque afinal, não há um guião para o sucesso. Esta não é uma palestra sobre terapia motivacional, mas apenas uma reflexão sobre aquilo que vivemos e aquilo que está nas nossas mãos tentar mudar.

É a vida que nos vai ensinando. Na prática, há dias difíceis. O quotidiano não é uma “pêra doce”. O suporte emocional dos que gostam de nós e realmente se preocupam é talvez a única terapia para sarar as feridas deixadas pelo rasto das contrariedades.

E além disso, apesar dos fracassos, há sempre um amanhã! E o sol pode voltar a brilhar e a trazer uma nova esperança. É isto que afinal nos ajuda a viver e encarar cada dia com um novo alento. Melhores tempos virão! Por morrer uma andorinha, não acaba a primavera. E não poucas vezes, a derrotas podem convertem-se em vitórias.