7 Outubro 2018      14:30

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Delia Derbyshire

A tomada de consciência (são estes os termos a empregar, e não outros) das harmonias robotizadas de Delia Derbyshire, em 2018, a.d., resulta numa pequena maravilha: juntar três tempos num estado de sublime dissonância. Numa década, a sonoridade da anterior, cinco décadas depois. A década magna: 61-70 do século XX, como não podia deixar de ser.

Contingência da música electrónica dos primórdios, pois, para o caso, mais do que de talento musical, alimentava-se de possibilidades (e nesse tempo não eram assim tantas). Da necessidade de um mecanismo sustentado por resistências, chips ou pré-chips, memórias e processadores, quando para a maior parte nem denominação havia. Os sons não eram inteiramente sequenciais, não brotavam de ondas, mas de interacções fragmentárias, os tais 1 e 0, plims e ploms que, então, se tornaram no som da ficção científica, mormente do cinema de ficção científica.

Estávamos em meados dos anos 50. O potencial de destruição da Era Atómica pedia um novo tipo de imagens – invasões, naves espaciais, monstros, robôs e raios laser. A deflagração como hipérbole, a figura de estilo para um mundo novo, de rosto temível.

Tais imagens, na natural sequência de eventos, precisavam dos sons correspondentes. A banda-sonora da modernidade. Mas, à época, como antes referimos, os meios eram parcos dados os fins em causa. Computadores que ocupavam salas inteiras, capacidade (performance) na razão inversa do tamanho. Tirar desse equipamento primitivo sons já era desafio suficiente. O nome maior desses tempos: Raymond Scott e a sua Manhattan Research. Só a partir da segunda metade da década de setenta, aproveitando a evolução tecnológica, a expressão música electrónica entrou verdadeiramente no léxico e na prática corrente.

Do tempo que mediou, nos dois lados do Atlântico, um outro nome merece destaque: Delia Derbyshire. Com ela, podemos dizer, o som electrónico fez-se música antes de tempo. Ziwzih Ziwzih OO-OO-OO (composição criada para uma série de TV da BBC, Out of the Unknown) é, talvez, a primeira construção sonora por meios electrónicos a que podemos chamar canção.

 

Imagem de thesmith.org.uk

 

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