20 Abril 2018      10:34

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De Montoito para a Primeira Grande Guerra (1914-1918)

A propósito das comemorações dos 100 anos do Armistício

 

A razão pela qual as futuras linhas são dedicadas a um grupo de soldados residentes no território de Montoito prende-se, por um lado, com a forma como gostaríamos de retirá-los do silêncio, recordando-os e valorizando a sua difícil tarefa, e por outro, relembrar o que para uma boa parte da sociedade civil é o desconhecimento da participação do nosso país de forma activa neste conflito.

Foi a 28 de Junho de 1914, com o assassinato do herdeiro ao trono Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Fernando, que o período de Paz com que a Europa vivia nos anos da Belle Époque foi interrompido. A declaração de guerra da França e Inglaterra à Alemanha, acabou por arrastar grande parte das potências europeias, com excepção da Espanha, Suíça, Países Baixos e da Região da Escandinávia. Após este momento e “a partir dos últimos dias de Julho de 1914, a Europa se envolveu rapidamente num extenso conflito que se iria prolongar por mais quatro anos e originar profundas mudanças em todos os campos da história humana.” (AFONSO, 1989,  p.606). Portugal era por esta altura um país instável sob o ponto de vista político e palco de divisões internas entre monárquicos e republicanos (PIRES, 2016, p.2).

O que culminaria com a declaração de Guerra da Alemanha a Portugal em 9 de Março de 1916, foi um conjunto de comportamentos e incidentes dos alemães para com o nosso país, como por exemplo o ataque a uma pequena guarnição em Moçambique e a Naulila em Angola. A partir deste momento os procedimentos de recrutamento foram rápidos e transversais a todo o país, com a afixação de editais nos mais variados edifícios públicos, estações de caminho de ferro e praças. Ao nível da distribuição de efectivos o exército português dividiu-se para França, África, Continente e Ilhas (para defesa do nosso território). Só para a Flandres, Portugal mobilizou mais de 75000 efectivos até à assinatura do Armistício em 11 de Novembro de 1918. No total, ainda que com reserva, temos como estimativa do Corpo Expedicionário Português: 1.341 mortos, 4.626 feridos, 1.932 desaparecidos e 7.740 prisioneiros (SILVA, 2004, p.14).

Enquadremos de seguida o nosso foco, as “nossas gentes montoitenses”, dando a conhecer o arquivo de registos dos Boletins Individuais de Militares do CEP. Nele encontramos referências a um conjunto de Sargentos e Praças, alguns dos quais com representação digital para consulta.

Montoito, terra simples e sinónimo da ruralidade alentejana, onde a agricultura era o principal sustento, assim como tantas outras localidades do nosso país, via partir muitos dos seus com a incógnita que está subjacente a todo e qualquer conflito desta natureza. 

Disponibilizo em seguida uma síntese dos dados referentes aos Sargentos e Praças naturais de Montoito (tal como encontramos no ficheiro consultado):

  • António Paixão | Soldado
  • António Rosa | Soldado | C.A.P.
  • Celestino Caeiro Gregório | Soldado | C.A.P.
  • Elias Cartaxo | Soldado | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • Gabriel Batista | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • Henrique Mira | Soldado | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • Inácio Ambrósio | Soldado
  • Inácio Ambrósio | Soldado | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • Inácio Inverno | Soldado | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • Inácio Joaquim Madeira | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • Inácio Pires Madeira | Soldado | G.C.A.M.
  • João Lourinho | Soldado
  • Joaquim Francisco Albano | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • José Amaro | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • José Fabricio | Soldado | 4ª Companhia | 1º Grupo Compªs. Saúde
  • José Francisco Catrapolo | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • José Gonçalves Rogado | Segundo Sargento
  • José Inácio Caeiro | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • José Vicente Roupa | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • Luís Barradas | Soldado C.A.L.P.
  • Manuel Amaro | Soldado | Regimento de Infantaria nº11
  • Manuel Coelho Rico | 2º Sargento | 4ª Companhia | 1º Grupo Compªs. Saúde
  • Manuel Luís Vieira Rogado | Primeiro-Sargento
  • Manuel Mendes | Soldado | 9ª Companhia | Regimento de Infantaria nº11
  • José Garcia | Soldado | R.I.11

Sobre os dados disponíveis deixamos o registo do Soldado José Inácio Caeiro, morrendo na Bélgica no dia 9 de Novembro de 1918 apenas a dois dias do final da Guerra, o dia do Armistício em 11 de Novembro de 1918. Este bravo soldado encontra-se sepultado em França, no cemitério de Richebourg I`Avoué, Talhão B, Fila 2, Coval 12.

 

texto e pesquisa de José Figueira        

 

 

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