24 Agosto 2017      11:50

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DA SECA VIVIDA, À "SECA" CONSENTIDA

Com a seca dentro de casa, tudo tem outra cor, outro ritmo; o amarelo rege e as oliveiras consentem um maior calmeiro.

Existe coisas para as quais não consigo encontrar explicações. Chego a pensar que todas estas contemplações, toda a dialética dos acontecimentos, contribuem, só por si, para o vingar de anulações consentidas, de ignorâncias perpetuadas.

Estando de férias tentei ver televisão durante as horas em que habitualmente estou a trabalhar.

Mal ligo o aparelho irrompem do ecrã leviandades, aproveitamentos consentidos, o culto do ridículo.

O embate foi traumático.

São dias seguidos em que se exploram dramas, entram-nos pela casa dentro garantindo dinheiro fácil, saúde vitalícia e a juventude eterna. O aproveitamento e a especulação invadem-nos.

Continuamos a ter canais televisivos com alguma diferença nos modos de expressão, mas com fins comuns. Querem-nos fazer acreditar que temos liberdade para escolher, que nos são proporcionados diferentes pensamentos.

Como andamos iludidos!

Naturalmente, admitimos que somos livres, acreditamos na liberdade de escolha, mas continuamos limitados às formas e aos conteúdos. As escolhas não somos nós que as fazemos, são-nos impostas.

É nesta secura de conteúdos que se limitam as nossas liberdades.

Oferecem-nos pensamentos e fazem-nos acreditar que são nossos.

Mesmo sabendo que ninguém pensa sozinho, ao tomarmos estes como nossos, contribuímos para o eternizar do mau gosto e da iliteracia consentida.

Limitam-nos os propósitos; deixamos de sonhar e passamos a ser sonhados.

Fingimos ser donos das nossas vontades, mas somos absorvidos por pensamentos e tomamo-los como nossos.

Quase existimos por imitação.

Oferecem-se vidas cheias de portas, mas são as condutas normalizadoras que imperam.

Não nos dão as verdades, oferecem apenas o que nos querem fazer acreditar, brindam-nos com ilusões.

Presenteiam-nos com gentes viciadas nos infortúnios e com conversas exploradas em silêncios.

Se, com a seca vivida pouco podemos fazer, no que respeita à “seca” consentida tudo está por consumar.

Imagem de capa de simplicityandbeyond.com