A expansão de plantações intensivas de abacateiros, citrinos e frutos vermelhos está a comprometer os recursos hídricos subterrâneos na bacia do Sado, especialmente em Alcácer do Sal e Grândola.
Segundo noticia o jornal Público, o projeto das Herdades da Murta e Monte Novo, com 360 hectares de citrinos regados, motivou alertas de especialistas sobre o risco de colapso do aquífero.
Desde 2017, a instalação de culturas em plena Zona Especial de Conservação tem provocado uma descida acentuada dos níveis piezométricos, afetando a estrutura arenosa do solo e reduzindo a capacidade de reserva hídrica. Estima-se que as extrações anuais já excedem os 65 hm³, aproximando-se ou ultrapassando o limite sustentável de 80% da recarga disponível.
A discrepância entre os dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e os cálculos independentes sugere captações ilegais e subnotificadas. Segundo o hidrogeólogo Jorge Duque, a substancial diferença nos volumes de água consumidos “configura ou a existência de grande número de furos ilegais, ou a captura de água acima do que é permitido, onde a rega é, sem dúvida, o principal consumidor”.
Já Carlos Alberto Mineiro Aires, ex-presidente do Instituto da Água, na consulta pública de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) do “Projeto Agroflorestal das Herdades da Murta e Monte Novo”, acrescenta que “ninguém sabe em que situação se encontra o aquífero, qual a sua efetiva capacidade de armazenamento e recarga e qual a qualidade da água subterrânea disponível, nem existe qualquer rede de monitorização quantitativa e qualitativa que seja credível e fiável”.
A pressão turística também contribui para o consumo excessivo, com até 9,8 hm³/ano em zonas como Tróia. Além disso, os especialistas alertam para o risco de contaminação salina nas áreas próximas dos estuários e para a ausência de um sistema fiável de monitorização da qualidade e quantidade da água subterrânea.
Também a Câmara Municipal de Alcácer do Sal manifesta preocupação com os impactos cumulativos da agricultura intensiva e das alterações climáticas, que agravam a escassez hídrica e ameaçam o abastecimento público.
Fotografia de correiodelagos.com