4 Junho 2022      12:09

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Cuidado com a inflação

Segundo dados publicados recentemente pelo INE a inflação em Portugal dispara para 7,2% em abril, sendo o valor mais alto dos últimos 29 anos. Comparando como o mês de março, tivemos um aumento de 1,9 pontos percentuais, que, de acordo com a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE), este aumento é influenciado pelos produtos energéticos e alimentares não transformados.

Só para se ter uma medida clara e que seja facilmente percebida: a taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos foi de 26,7%. Desde meados dos anos 80 que não tínhamos valores tão elevados.

Outro fator, talvez ainda mais importante, o índice referente aos produtos alimentares não transformados apresentou uma variação de 9,5% (5,8% em março). Ou seja, no que respeita aos produtos de primeira necessidade (alimentares) e não substitutos, o valor do aumento dos preços é brutal.

Uma coisa é certa, a inflação é das variáveis económicas mais complexas e mais difíceis com que se pode lidar. Como economista, já há muito que não tinha que fazer contas tendo em conta esta variável. Na prática, todos estes anos da minha vida profissional, sempre lidei com taxas de inflação muito baixas. Isto obriga um voltar a olhar para os compêndios académicos e tentar perceber bem os efeitos económicos da inflação e pensar bem sobre as potenciais medidas corretivas que se podem utilizar. Com um contexto histórico, económico e social, totalmente diferente, não é tarefa fácil!

Imagino aqueles que têm que tomar medidas, sobretudo macroeconómicas, não têm a vida facilitada.

Uma coisa é certa, se todos os preços (relativos aos bens, serviços, salários, lucros etc.) aumentassem uniformemente, não teríamos quaisquer problemas. As contas eram fáceis de fazer e as medidas corretivas também. O problema é que a inflação mexe nos preços relativos, e assim, provoca desequilíbrios muito grandes. Há muita gente a perder, sobretudo aqueles que ganham menos.

Tal como se prevê em Portugal, com uma inflação superior ao aumento de salários (salários reais a baixar), temos imediatamente uma perda de poder de compra da população de grande parte da população.

Por outro lado, a inflação também dificulta o cálculo económico e cria ineficiência na economia, isto porque prejudica facilmente a tomada de decisão num ambiente de incerteza. Evidentemente afeta o comércio e praticamente grande parte da atividade económica. É um fator de risco totalmente dispensável!

A inflação também pode distorcer preços e reduzir facilmente os investimentos. Planear a longo prazo é muito mais complexo.

A inflação é o “imposto dos pobres”. Não se vê, mas prejudica gravemente quem menos ganha. Significa, também, que pode ser um elemento perturbador em termos sociais. Esta matéria agrava-se quando não há crescimento económico. Aí os perigos aumentam significativamente!

Para se fazer face a este problema são necessárias medidas anti inflação. Normalmente, tem que se ajustar ou corrigir com uma mescla de medidas. Baixar impostos é uma medida correta, mas não suficiente. Torna-se fundamental ajustar através da correção das taxas de juro, alongamento de prazos de pagamento dos empréstimos das famílias e empresas. Evidentemente que é fundamental aumentar salários, de outra forma, a situação económica pode deteriorar-se. Acredito que o caminho é por aqui.

Espero que haja discernimento político para se tomarem as medidas corretivas adequadas e que sejam socialmente justas. De outra forma, podemos agravar a situação económica e social do País de tal forma, que é difícil voltar a recuperar.