Este fim de semana decorre a Festa do Avante. No entanto, este ano a Festa do Avante está no centro da polémica em Portugal. Esta tradicional festa popular que é organizada anualmente pelo Partido Comunista Português arrancou num contexto particular, devido à pandemia de coronavírus, e tem sido marcada pelas críticas por uma boa parte da opinião pública, que condena a organização do evento e acusa a Direção Geral de Saúde e o governo de cederem ao PCP.
Não é sobre essa matéria que incidem os meus comentários. Aliás, não me sinto capaz de entrar nesse nível de polémicas. Ao certo, ao certo, não sei se o PCP tem razão ou não. O que consigo verificar, e já há muito o faço, é que não existe equidade nas decisões da DGS e do Governo. Não há equidade quando se permite a realização de alguns espetáculos culturais e outros não (como se chegou a passar com a Festa Brava). Não há equidade quando se permite a participação de público em alguns espetáculos, e ao mesmo tempo não se permite a participação de público em eventos desportivos. Não há equidade quando as praias estão todas cheias e ao mesmo tempo não de permite a realização da Volta à Portugal em Bicicleta (ao ar livre!). São apenas alguns exemplos numa imensidão de mensagens e opções erradas!
É essa falta de equidade e péssima mensagem que tem sido transmitida aos portugueses que me causa estranheza. Acredito que estas realizações são possíveis, mas com regras bem definidas. Evidentemente que existirão sempre abusos, mas para isso cabe às forças de segurança garantir a respetiva inibição.
Sobre esta opção do PCP em realizar a Festa do Avante, neste contexto muito especial, estou convencido que, em termos políticos, é uma má opção. É legitima, mas é uma opção política errada.
As razões são simples: a opinião pública (inclusive de muitos comunistas) é genericamente contra a realização de uma Festa que vai envolver cerca de 16.000 pessoas. Fosse qual fosse a festa seria sempre altamente criticada. Indo contra a opinião pública, o PCP perde expressão. Se me perguntarem se tenho alguma coisa a ver com as opções do PCP? É claro que não.
Neste caso concreto, utilizando uma linguagem mais mercantilista (que o PCP tanto detesta), esta é uma opção de gestão muito duvidosa. As perdas no curto e médio prazo são garantidas. Estão à vista dos olhos de toda a gente!
Por isso mesmo, a questão que coloco nada tem a ver com as regras que o PCP tem que cumprir, mas sim com opções políticas. É claro que acredito que as regras vão ser cumpridas, no entanto, os custos de popularidade vão ser bem significativos.
Nos últimos anos, o ódio do PCP a Pedro Passos Coelho (estenda-se a PSD + CDS) levou este partido a tomar opções claramente autodestrutivas. A participação no processo denominado de geringonça foi altamente prejudicial para o PCP e altamente benéfica para o PS. Basta ver os últimos resultados das legislativas e das europeias, mas sobretudo na perda de 14 Câmaras (34 para 20), para perceber o desaire do PCP.
Evidentemente que o PCP é um partido livre de tomar as suas decisões, mas também somos livres em efetuar as leituras que entendemos.
Para terminar, lembro uma frase de um amigo comunista, a propósito das famosas históricas ´´vitórias´´ eleitorais do PCP: ´´andamos de vitória em vitória até à derrota final! ´´