19 Fevereiro 2022      12:21

Está aqui

Costa sucede a Costa

António Costa concretizou o seu sonho: governar com maioria absoluta e sem depender dos partidos à sua esquerda. Tem agora uma oportunidade única para reformar o país. Desburocratizar licenciamentos, agilizar procedimentos administrativos, ser implacável com a corrupção, retomar a paixão da educação, encarar a lentidão da justiça portuguesa como um entrave à atividade económica e ao investimento estrangeiro.

Irá, com certeza, inverter o processo de centralização de competências que tem esvaziado a administração central desconcentrada, recentrar a discussão da regionalização na agenda política nacional, a alteração à lei eleitoral para a Assembleia da República e à Constituição da República Portuguesa, ou a lei das autarquias locais cujo modelo também tem sido, ciclicamente, ainda que de forma envergonhada, discutido em surdina.

Costa deter-se-á, nas questões ambientais e energéticas, que nos deixam depauperados, nomeadamente no que concerne à eletricidade e gás, para não mencionar os combustíveis.

Costa que abate sobreiros e azinheiras por painéis solares, ou por grandes empreendimentos turísticos, e fecha centrais termoelétricas a carvão para depois comprar eletricidade a Espanha que a produz dessa forma. Nesta senda, o PS terá mais de quatro anos para reformar a eficiência energética em Portugal, sem esquecer o problema da pobreza energética, podemos ficar seguros(?!)

Terá, obviamente, especial preocupação com as questões ambientais. Lembro o caso das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), inexistentes ou deficitárias, subdimensionadas nas freguesias urbanas por exemplo, o escorrimento de esgotos a céu aberto para as linhas de água, ou o transbordo das velhas Estações, sem eficiência, já para não mencionar a quase inexistência ou a inadequação de ETAR industriais em boa parte das nossas zonas industriais. Dir-me-ão que tais competências são das autarquias locais. Mas sem programas de financiamento nacional/europeu para tais investimentos, é impossível a um Município com 10 milhões de Euros de orçamento, ou pouco mais (atendendo à nossa realidade) empreender tais obras.

Costa tem todas as condições para reformar o país. Tem. Mas quer fazê-lo?

Manterá seguramente o seu estilo de governação. Nepotismo. Golas inflamáveis. “Ocupantes” fantasma. Redes opacas de poder. Arrogância e políticos que nada sabem ou não souberam interpretar os seus próprios despachos. Manterá a estética do diálogo.

Um sistema de educação sem exigência, que roça a promoção do insucesso escolar, mas fortemente ideológico nos princípios societais e que se quer substituir às famílias na transmissão de valores.

Um sistema que não quer verdadeiramente debelar a pobreza nem apostar na quebra do ciclo vicioso em que ela se tornou nas famílias desfavorecidas. Permanecerá um sistema assistencialista de pagamento de prestações sociais, sem ambição quanto à intervenção social ou à formação de pessoas livres e esclarecidas. Sem promoção do elevador social, portanto.

Continuaremos a ter um pais desigual e assimétrico. Despovoado no interior. Sem igualdade de oportunidades. A ver passar o comboio, que não pára aqui.

Costa continuará amigo das grandes empresas públicas, do despesismo, do centralismo, dos grandes investimentos nas áreas metropolitanas e de uma cultura elitista que seleciona, até pelo IVA, os espetáculos do regime.

Costa sucede a Costa, para que fique tudo na mesma.

 

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Sónia Ramos, Mestre em Gestão e Políticas Ambientais pela Universidade de Évora e licenciada em Direito, pela Universidade Autónoma de Lisboa. É Técnica Superior de Reinserção Social da Carreira Técnica Superior de Reinserção Social. Já foi jurista na Direção Regional de Agricultura do Alentejo do Ministério da Agricultura e formadora nas diversas áreas de Direito (Direito do Trabalho, Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, Deontologia e Ética Profissional) para o Instituto de Emprego e Formação Profissional.

Entre outros cargos públicos, foi Diretora de Segurança Social do Centro Distrital de Évora. Militante e dirigente do PSD, será empossada deputada pelo círculo de Évora na próxima legislatura.