28 Junho 2018      15:14

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Coria Del Rio e o Alentejo – A História, como alavanca do desenvolvimento turístico

Coria del Rio é uma pequena cidade da Andaluzia, a cerca de 20 quilómetros de Sevilha, localizada nas margens do rio Guadalquivir. Tem cerca de 30.000 habitantes e uma curiosa história de ligação ao Japão.

De facto, cerca de 600 desses habitantes, com o apelido “Japón”, descendem diretamente dos samurais que por aqui passaram, integrados na Embaixada Kensho, em 1614. Esta missão, enviada para negociar um tratado de comércio com o Rei espanhol Filipe III (segundo de Portugal), foi chefiada por um nobre japonês, Hasekura Tsunenaga.

A comitiva parou em Coria del Rio, já que subir o Guadalquivir desde este ponto até Sevilha era bastante complicado. Os samurais permaneceram aqui durante os três anos que durou a visita oficial. No entanto, as negociações comerciais falharam, já que durante este período, tiveram início as perseguições aos cristãos que se encontravam em solo japonês.

De modo a não renunciarem à fé cristã, 300 japoneses acabaram por ficar em Coria del Rio e aqui criaram raízes que perduram até aos nossos dias.

Este acontecimento histórico tem sido aproveitado pelo Município de Coria del Rio para estreitar relações com o País do Sol Nascente e para dinamizar, do ponto de vista turístico e económico, esta localidade. De facto, a organização de eventos, conferências, documentários, filmes, exposições, criação de rotas turísticas, visitas temáticas e a promoção da “Semana Cultural do Japão” (que se realiza anualmente, em Outubro), têm trazido, ao longo dos últimos anos, muitos turistas japoneses, ávidos de conhecimento, que ficam fascinados com esta história de ligação ao Oriente. A Associação Hasekura (criada na cidade em 1997) tem também um papel vital no desenvolvimento de todas as atividades culturais desenvolvidas em torno desta questão.

Existe, portanto, um claro aproveitamento de um episódio histórico, transformado em ativo estratégico, turístico e económico. Respira-se “Japão”, em Coria del Rio. As ruas tem o nome em castelhano e japonês, nas lojas são visíveis as bandeiras do Japão hasteadas em todos os recantos e foi criada uma estátua de homenagem a Hasekura Tsunenaga.

Quase todos os fins-de-semana são organizadas iniciativas que trazem muitos turistas até este território (não somente japoneses) e que ficam fascinados com a dinâmica aqui desenvolvida sobre esta jornada. A cidade tem sido diversas vezes homenageada pelo governo japonês, pela valorização deste tema.

O que tem esta história a ver com o Alentejo?

Anos antes, em 1584, a Embaixada Japonesa Tenshö, proveniente de Nagasáqui e acompanhada pelos Jesuítas, passou por Évora e Vila Viçosa, no caminho para Roma, para onde se deslocou, com o objetivo de prestar votos de vassalagem ao Papa Gregório XIII.

O Arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança, ao ter conhecimento da chegada dos ilustres japoneses, fez questão de receber a comitiva com honras, privilégios e ofertas na capital alentejana. Visitaram a Sé (onde tocaram órgão) e ficaram hospedados no Colégio do Espírito Santo. Daqui, seguiram para o Paço dos Duques de Vila Viçosa, onde ficaram hospedados, por convite de D. Catarina e D. Teodósio II, 7º Duque de Bragança.

Desta viagem, ficou também um legado importante, a nível documental e em termos de memória histórica. Também aqui deixaram a sua marca, que o tempo não apagou. Muitas linhas já foram escritas sobre este tema. E ainda há muito por descobrir!

A grande questão é que o Alentejo não tem sabido explorar este “filão” (ao contrário do que acontece em Coria del Rio). Existe aqui um segmento de mercado em termos turísticos que poderia ser muito melhor aproveitado, com a promoção de iniciativas que atraíssem o visitante japonês para a ligação histórica da nossa região ao seu país.

A criação de rotas turísticas entre Évora, Vila Viçosa e Elvas (de onde partiram em direção a Madrid), poderia ser o “tónico” importante, em termos de estratégia de atração, promovendo a conexão entre a história, o turismo e o património (nas suas diversas vertentes). Já apresentei esta proposta a várias entidades, mas o resultado, até agora, foi nulo. Numa altura em que se pretende valorizar a nossa identidade e os nossos recursos endógenos, estamos claramente a perder oportunidades. Aprendamos com os bons exemplos!

 

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