31 Agosto 2024      10:17

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Cooperativa de Odemira reclama criação de Área Integrada de Gestão da Paisagem

Uma cooperativa formada por proprietários e entidades de Odemira, Aljezur e Monchique, concelhos afetados pelo incêndio ocorrido há um ano, reclama a efetiva criação da Área Integrada de Gestão da Paisagem (AIGP) nessa zona, ainda num impasse.

A medida, já determinada numa resolução do Conselho de Ministros, poderá não avançar por “falta de fundos”, revelou Cláudia Candeias, administradora da cooperativa Terraseixe, constituída em abril deste ano para gerir as AIGP nos concelhos de Odemira, no distrito de Beja, e Aljezur e Monchique, no de Faro.

“Depois de um processo longo e burocrático para a formação desta cooperativa, íamos pedir ao ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] para nos dar a certificação como entidade gestora [da AIGP] e, nessa altura, fomos informados de que não havia fundos e que não se poderia avançar” com a criação destas áreas no território, argumentou.

De acordo com a responsável, a cooperativa, criada após uma proposta do presidente da Câmara de Odemira, Hélder Guerreiro, em reuniões com vários ministros e secretários de Estado do anterior Governo, pretende garantir “um planeamento coletivo do território e de prevenção, combate e resiliência aos incêndios”.

No entanto, um ano após o incêndio que consumiu pelo menos 7.530 hectares de floresta, terrenos agrícolas, casas, turismos e montados na freguesia de São Teotónio (Odemira) e dos concelhos de Monchique e Aljezur, a criação da AIGP continua num impasse.

Para reclamar a concretização desta medida já aprovada pelo anterior executivo, Cláudia Candeias adiantou à Lusa que a Terraseixe, que conta com mais de 2.000 cooperantes, enviou uma carta aberta ao atual Governo da AD.

No documento, a cooperativa lembra que a criação desta entidade uniu “uma comunidade inteira”, formada “por proprietários e entidades locais com grande experiência na área florestal e agrícola e nas áreas de gestão de projetos”.

“Segundo as palavras de anteriores ministros que estavam no poder nessa altura, havia milhões destinados a esta causa. Desapareceram ou estão à espera de resoluções de ministros para saírem da gaveta?”, questionam.

Os cooperantes explicam na carta que, “com o apoio do ICNF e dos Municípios de Odemira, Aljezur e Monchique”, avançaram “com a legalização da cooperativa que, devido aos exigentes parâmetros de entidade gestora, teve que passar por um processo complexo e muitas provações”.

“Afinal, o que é que nos falta para confiarem em nós como entidade para gerir fundos europeus destinados à coesão territorial e à regeneração das nossas florestas e áreas ardidas?”, questiona a cooperativa, reclamando que é “importante haver diálogo, consultar quem conhece o território, quem faz pelo território, quem vive no território”.

Cláudia Candeias, acrescentou que os cooperantes estão agora “na incerteza” sobre se “o projeto da AIGP vai ou não ser aprovado”, depois de o Governo ter alegado que, além de “não haver fundos” para a sua criação, estas áreas “noutras zonas do país não foram efetivas como esperavam”.

No entanto, nessas zonas “também não tiveram uma entidade gestora organizada por agentes locais no território com várias valências, desde engenheiros florestais e agrícolas a produtores e outros profissionais competentes para dar resposta a um projeto desta envergadura”, argumentou.

Caso a AIGP não avance neste território, Cláudia Candeias disse recear que “os terrenos fiquem ao abandono” e alertou que este cenário é propício a “novos incêndios”.

“A grande proposta do [anterior] Governo era tornar estes terrenos também produtivos para manter a população no território, porque temos o problema de falta de agentes que possam tornar os campos produtivos, e seria uma forma também de criar micro-negócios dos agentes locais”, sublinhou.

 

Fotografia de sicnoticias.pt

Fonte: Lusa