15 Março 2023      12:27

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Conhece a Cereja de São Julião? É produzida no Alentejo

É apenas no Alentejo, mais concretamente nos concelhos de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide, que se produz a Cereja de São Julião DOP, um fruto muito doce, mas ainda pouco conhecido, que foi destacado pelo jornal Expresso, num artigo publicado no projeto “Da Terra à Mesa”, parte do Boa Cama Boa Mesa.

Foram as “características edafo-climáticas região” de São Julião, freguesia de Portalegre, que “proporcionaram a existência e desenvolvimento de uma variedade local de cereja”, explica a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), citada pelo jornal, que nota que, para além de Portalegre, os concelhos de Marvão e de Castelo de Vide também fazem parte da área de produção desta cereja.

O semanário chegou à fala com o produtor Ricardo Reia, de 49 anos, que se dedica à produção deste fruto há 20, embora o negócio tenha começado com o seu pai.

“A história da cereja de São Julião começou com o meu pai, há cerca de 40 anos, quando esta variedade apareceu, de forma espontânea, aqui na propriedade. Houve uma alteração genética de outras variedades”, explica o produtor.

O surgimento desta cereja é também explicado pela DGADR, que refere que a origem deste fruto remonta a “cultivares resultantes do cruzamento de cerejeira brava (Prunus avium L) com as variedades autóctones da zona de Portalegre”.

Ao longo do tempo, tem surgido a necessidade de evoluir para ser possível acompanhar o mercado, uma vez que, em termos de calibre e de textura, esta cereja “fica um bocadinho aquém daquilo a que o mercado nos obriga hoje em dia”, refere Ricardo Reia, que tem cerca de 12 hectares destinados a esta e a outras variedades.

Embora o faça de forma independente, o seu irmão dedica-se à mesma atividade, estando ambos a dar seguimento ao trabalho do pai e a responder afirmativamente a uma das medidas da PAC (Política Agrícola Comum) para 2023-207, que passa por atrair jovens agricultores e tornar mais simples o desenvolvimento de empresas em áreas rurais.

“Felizmente, gosto muito do que faço”, afirma o produtor, que reconhece que as vendas desta cereja não são muito significativas em Portalegre, adiantando que este fruto é comprado sobretudo na região do Baixo Alentejo e também em Lisboa, quando há produção em excesso.

De acordo com a DGADR, a Cereja de São Julião DOP apresenta todas as características necessárias para uma boa adaptação ao clima.

A mesma fonte caracteriza-a como “uma cereja de cor preta, com acentuada pigmentação na polpa, bem visível ao corte e à mastigação, de sabor muito doce, forma redonda, pedúnculo comprido e com peso médio entre 5 a 8 gramas”.

O produtor Ricardo Reia destaca ainda o papel essencial do sol do Alentejo e das temperaturas que se verificam na região quando se dá a maturação do fruto, pois contribuem para uma maior concentração de açúcar na fruta.

A localização, “num cantinho da Serra de São Mamede”, também se revela importante, uma vez que as temperaturas muito baixas que aí se registam durante o inverno possibilitam a produção desta cereja, que vai desenvolver-se entre os meses de maio e junho, em circunstâncias normais, isto porque a produção tem vindo a ser dificultada pela sensibilidade da árvore e afetada pelas alterações climáticas.

“Antigamente, há 20 ou 30 anos, o clima era igual: o inverno rigoroso, a primavera amena, o verão quente... agora não. Hoje temos 5ºC, amanhã temos 20.ºC. O ser humano tem problemas de adaptação à temperatura. Num dia estamos de t-shirt, no outro de casaco e no dia seguinte ficamos doentes. Com as árvores é igual. É difícil para se adaptarem, mas temos que tentar minimizar esses danos”, considera.

A PAC tem como linhas orientadoras a sustentabilidade social, ambiental e económica.

Em Portugal, os objetivos passam pela valorização da pequena e média agricultura, pela aposta na sustentabilidade do desenvolvimento rural, pela promoção do investimento e do rejuvenescimento do setor da agricultura e ainda pela transição climática.

 

Fotografia de qualigeo.eu