5 Novembro 2020      10:47

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Coesão para o Eixo Atlântico! E o Eixo Ibérico?!

Por Jorge Pais, Presidente da Associação Empresarial de Portalegre

Com louvável frontalidade a Ministra da Coesão Territorial em conferência promovida no âmbito da Cimeira Luso-Espanhola afirmou publicamente, alto e bom som, que o governo não aceitava as pressões dos seus colegas espanhóis, que só pensavam na ligação Madrid - Lisboa, porque a prioridade do governo não era essa, mas sim: o Eixo - Atlântico! Pomposa expressão que enquadra e fundamenta a ligação ferroviária de alta velocidade Lisboa - Porto - Vigo (Galiza) anunciada pelo governo. Sem dúvida uma obra importante e de utilidade, que não se discute, o que nos incomoda é a ironia da categórica afirmação ser produzida precisamente pela responsável da Coesão Territorial, e não ser equilibrada com o reconhecimento de outras prioridades, até talvez mais prioritárias!

O designado Eixo Atlântico, em Portugal, é a faixa territorial que concentra a maior parte da população e riqueza deste pequeno país, tendo sido criado este ministério exactamente para pugnar pela aproximação do resto do país, os territórios de baixa densidade, aos níveis de desenvolvimento económico e social desta faixa que - agora é oficial - constitui a prioridade do governo.

Para um ministério que tem esta missão não se pode dizer que haja muita coerência no reconhecimento oficial de tal prioridade, que ainda por cima, passa pela Galiza e acaba no mar! Territórios de baixa densidade nem vê-los!!! A coesão funciona ao contrário, como infelizmente sempre foi costume, e por isso chegámos ao estado, como diria o nosso saudoso conterrâneo Salgueiro Maia, do estado a que isto chegou! Com as famosas assimetrias regionais! Que desde o 25 de Abril tanto preocupam os nossos políticos...

Porém, os grandes volumes de investimento vão sempre para o mesmo sítio, sendo estas gentes do interior de baixa densidade que de forma abnegada e solidária dão sistematicamente o seu contributo para o litoral rico e desenvolvido, vendo os milhões, muitos milhões, passar-lhe ao lado! A coesão territorial parece processar-se ao contrário!

Ao Eixo Atlântico temos de contrapor o Eixo Ibérico! Este ao menos não acaba no mar, e leva-nos à Europa! Além de passar pelo interior, promovendo o seu desenvolvimento, consagra a coesão e liganos por terra à Europa! A Europa, essa mesma de que tanto nos queixamos de ser periféricos!

Este enormíssimo investimento, pode dizer-se que é em redoma! Que mais valia traz para o interior, encurtar uma hora na ligação ferroviária Lisboa - Porto??? A ligação do país com a Europa, beneficiando todo o território, não deveria ser tão ou mais prioritária?! Assim não parece entender o governo, porque segundo disse a Sr.a Ministra, para a ligação a Madrid já temos os aviões...

Mas, a Sr.a Ministra disse mais! E mais preocupante para o nosso Alto Alentejo e Alentejo em geral! Afirmando que a prioridade do governo não era a ligação a Madrid, acrescentou que o governo também não aceitava a pressão dos «nuestros hermanos» para que esta ligação se fizesse por Elvas - Badajoz, porque quando esta ligação de alta velocidade se construir, parecendo pelo menos reconhecer-lhe alguma utilidade, a opção do governo é por Vilar Formoso!

Portanto, a estratégia está montada! A Sr.a Ministra fez o favor de a desvendar com frontalidade. Só temos que agradecer a informação, digeri-la e tomarmos posição! Mas, as posições do Alto Alentejo, não sei porquê, são geralmente muito fluidas e pouco assertivas! Passam na maior parte das vezes despercebidas. Será porque somos poucos e muito virados para os nossos umbigos? Será porque na verdade não vivemos a identidade regional? Será porque não nos organizamos? Porque não temos liderança? Porque, cada vez com menos sangue novo, já não estamos para nos dar ao trabalho de lutar pelas nossas causas?

Será que já não temos causas? Não sei! O que sei é que as revelações da Sr.a Ministra e o que não está no conteúdo do PNI, Plano Nacional de Investimentos, devem suscitar uma viva reflexão da região e a definição de uma estratégia de actuação, com o conjunto das medidas para nós prioritárias, e pelas quais lutemos todos, com força e determinação, todos!!!

Mas, até agora, como vai sendo habitual, está tudo muito calado! Já ouviram alguma coisa?

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Natural de Portalegre, onde reside, Jorge Pais preside ao Núcleo Empresarial da Região de Portalegre (NERPOR). Casado, com um filho, licenciou-se em Direito e tem formação complementar em economia. Jorge Pais é ainda vice-presidente da CIP.