18 Agosto 2018      12:44

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Coelhinho da Páscoa

Porque escrever sobre um coelhinho da páscoa? Resposta difícil, de longo e largo espectro, como alguns antibióticos. Tentarei responder, decifrando algumas das mais impressionantes histórias e narrativas que a propósito dos coelhinhos da Páscoa foram escritas e contadas. Desde tempos imemoráveis, quando ainda não se escrevia, quando ainda era a oralidade que contava, os coelhinhos da páscoa fazem parte do imaginário coletivo.

A primeira resposta é a de que é a época de grande calor, tanto calor em Portugal que até os ovos, se ficarem mais de cinco minutos ao sol, fritam. Porquê ovos e coelhos da Páscoa? Bem, essa parte nem eu consigo explicar a correlação entre ambos. Mas ela existe, desde tempos distantes também. Nessa altura, quando os dois primeiros se juntaram, as gravuras rupestres já mostravam os coelhos e os ovos da páscoa. Nesse tempo não havia páscoa. Já havia galinhas e já havia ovos e as pessoas, já nesse período do Ovolítico Menor, discutiam quem tinha surgido primeiro, a galinha ou o ovo.

Aqui, neste texto, a discussão que interessa mesmo é a de quem surgiu primeiro; o coelho ou o ovo da páscoa. Vários académicos têm-se debruçado sobre o assunto, sem conseguir chegar a nenhuma conclusão. Outros têm-se debruçado sobre a relva e debaixo de arbustos quando procuram ovos escondidos nos jardins, numa tradição anglo-saxónica muito rica, em calorias – Easter run. É neste ponto que a tradição anglo-saxónica diverge da tradição continental.

A academia criou, para clarificação das épocas, o Coelhítico e o Ovolítico, que depois se dividem em maior e menor. Porém, não entremos em detalhes. O que importará registar é que foram feitos avanços importantes na pesquisa e conseguiu chegar-se, através de figuras rupestres e pinturas, à identificação destas épocas pré-históricas. Não foi, todavia, possível, conhecer, através de testes de radiocarbono 14, qual delas é anterior à outra. Um proeminente académico, da escola do ovo tem rebatido consistentemente a teoria de que o coelho surgiu primeiro que o ovo. A sua posição tem ganhado adeptos, principalmente porque a sua base é a de absoluta rejeição da ligação entre os dois. Os ovos não dão coelhos e os coelhos não põem ovos.

As principais apoiantes deste são as galinhas e os galos. Sentiram-se desrespeitados na sua anatomia e genética. Foi, aliás, criada a associação das Galinhas Revoltadas Com Teoria dos Coelhos Da Páscoa (GRCTCDP). Seguiram-se veementes protestos em todos os galinheiros. Era necessário e urgente que se deixasse de considerar o coelho da páscoa e passasse e ter como ícone desta época do ano (na sua vertente de início da primavera), a galinha e o galo da páscoa. A sua revolta baseava-se no facto de se associarem os ovos aos coelhos e, no Natal, se sacrifique o galo e se tenha dado o nome da missa ao Galo.

Foi capa de todos os jornais, em agosto. Nesta época em que não há muito a contar e é preciso manter as pessoas informadas, sobre estas revoltas, pequenas, e as melhores, porque nos fazem sorrir.

Aos coelhos, cuja maioria não sabem ler nem escrever, pouco interessam estes pormenores. Aos coelhos, cuja vida passa por retraçar umas serralhas e catacuzes, couves e alfaces, pouco interessa esta discussão. Aos coelhos, tópico deste texto, pouco interessa a discussão académica. Bem, na verdade, aos coelhos, também pouco interessa este texto. Pode ser que interesse a alguém.