14 Abril 2018      22:39

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Claude Monet

A luminosidade antecipa, dobra e explode, e deixamos de poder ver. É nesta aparente contradição que os impressionistas encontraram o seu caminho. Não era um logro, antes uma hipótese – na verdade, a única. Querer ver no excesso de luz um máximo de nitidez é apenas o senso comum para lá do senso comum a funcionar: quando nos atiram um jorro de luz directamente para os olhos passamos a ver melhor? Claro que não, é o oposto. Mas é mesmo assim ou é antes...o verbo correcto utilizado de forma errada? Digamos que sim.

Incompleta pelo menos – como uma obra por concluir apenas com a parte de fora à vista e esta já praticamente acabada.

A luz é o tudo, melhor, o potencial do tudo. O brilho é a possibilidade de encontrar um qualquer sinal no meio da amálgama de hipóteses. É na luz que a ciência encontrou a sua possibilidade de investigação: não podendo o ser
humano viajar fisicamente através das soberbas e inexprimíveis distâncias do Universo, ainda assim viaja, através do espectro de cor; já agora, o vermelho é o limite do ilimitado. É também a luz que estabelece a baliza: o que tenha massa, não pode ultrapassar, nem sequer atingir, a sua velocidade.

Esmagados pelo excesso de luz, os olhos fecham-se. Deixamos de poder olhar, o momento perde-se, mas só na aparência, pois resta a memória, que não é menor manifestação do real. Ver é filtrar e suster, processo não exclusivamente mecânico, como olhar-pestanejar. O real reflectido é o resultado do um processo; em rigor, da deflexão da onda luminosa que então se torna instante, único / irrepetível, difuso, realidade por vezes rejeitada, mas lá, mesmo se por omissão. Impressão sobre impressão, observando os pontos de fuga, que se mantêm, que suportam a visão, que a consolidam, todavia paredes meramente indicadas / indicativas (não erigidas – como nos cenários de Brecht ou em Dogville, de Lars von Trier, que foi beber a Brecht). No fundo, tão simplesmente a realidade poética das impressões do artista, o quadro íntimo da sua visão do real. Ou, por outras palavras, a modernidade sem equívocos, aqui e agora no nosso colo redentor, e não como algo impalpável que se fazia anunciar, contudo com a imposição de nunca chegar, desde o início dos tempos.

A verdadeira revolução, pois é disso que se trata, é a que se forma e revela no indivíduo, não a que se sustenta na maquinaria, no ideal ou no poder da instituição.

 

Imagem de sartle.com