24 Abril 2021      10:09

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Captar investimento para as nossa terras

Há muitos e muitos anos que somos confrontados com as diferenças brutais entre o Litoral e o Interior. Os anos passam e a dicotomia entre Litoral e Interior agrava-se significativamente.

Quase que posso dizer que as minhas primeiras discussões políticas andavam em torno desta problemática. Muitos de nós fomos “educados politicamente” a discutir esta falha na nossa sociedade e da nossa democracia.

Um País a duas velocidades. O Interior, agora eufemisticamente chamado território de baixa densidade (curiosamente alguns situados em zonas do litoral), representa mais de dois terços do território nacional, encontra-se muito distante dos índices de desenvolvimento do Litoral.

Mudar este estado de coisas significa coragem política, coisa que vai escasseando cada vez mais. De outra forma, a ganância pelos votos massivos existentes no Litoral (principalmente nas principais Grandes Áreas Metropolitanas do País), leva os nossos políticos apenas a olhar para esses territórios. A coesão territorial para muitos atores políticos é “conversa da treta”.

Não é por acaso que o Plano de Recuperação e Resiliência insiste nesta tecla errada. E lá vamos ter o alargamento do Metro em Lisboa e no Porto, reforço da habitação social nas grandes cidades do litoral, e melhoria da ferrovia entre Lisboa e Porto. Mas se olharmos para os restantes investimentos, apenas temos trocos para o Interior.

E lá vem um blá, blá, blá de justificações, para justificar o que é injustificável!

Depois usam e abusam do argumento da descarbonização para roubarem investimentos que deveriam ser feitos no Interior, para os passarem para o Litoral. Até parece que não é o Interior quem mais contribui para o ambiente! Chega a ser absurdo!

Ainda acreditei, após as catástrofes dos incêndios que ocorreram no Interior do País, que as coisas se alterassem. Mas não! A solidariedade foi de curta duração!

Por isso mesmo, é preciso “bater o pé”. É fundamental estancar esta sangria demográfica que vamos vivendo nas nossas terras. É decisivo evitar que os serviços saiam das nossas regiões. Antes pelo contrário, é decisivo trazer mais serviços para as nossas terras.

Cada vez que vejo um grande investimento apontado para o Litoral, deixa-me perplexo. Significa que continuamos a não criar condições para captar esses investimentos para os nossos territórios de baixa densidade.

A coisa é mais grave porque significa falta de visão. Num País tão pequeno como o nosso, em que as distâncias quilométricas ente o Litoral e o Interior são tão pequenas, não ter capacidade em resolver este problema, é mesmo muito mau!

Acredito que é preciso fazer muito mais, que é fundamental agregar mais, porque só assim se pode mudar para melhor.

Os valores da Coesão, nomeadamente da Coesão Territorial, também devem fazer parte do léxico dos valores de Abril.

Captar investimentos para as nossas terras é prioritário. Só assim se pode criar riqueza. Só assim é que se pode fixar e atrair as pessoas. Só assim é que se pode promover o desenvolvimento.