Canja

É quando estamos doentes, com um ligeiro mal-estar ou num dia frio de inverno que a palavra nos soa mais apelativa e mais ternurenta. Sabemos que o significado atrás da palavra canja certamente nos dará um conforto apaziguador ou as forças necessárias para recuperar a saúde.

Com variações por todo o mundo, a canja é um prato internacional e favorito de tanta gente. É simples. No entanto, é na simplicidade das coisas que reside a sua maior beleza ou os seus maiores benefícios.

Isso mesmo acontece com a canja. Habituados a sentir o seu sabor e a beneficiar das suas propriedades curativas ou reconfortantes desde pequeninos, nós portugueses passamos de geração em geração essa sopa, ou remédio caseiro, para os nossos filhos, netos, aos mais próximos e até aos mais distantes.

A origem da canja, dizem, estará na China ou na Índia, a congee ou kanji, sopa para doentes, ou convalescença, à qual os portugueses acrescentaram a galinha e trouxeram para Portugal, levando a mesma para o Brasil e, daí, percorreu o mundo.

Em todos os países por onde passei, sempre encontrei a canja de galinha, feita com variações que levam cenoura, aipo e tantas outras inovações. Os ingleses chamam-lhe chicken soup, mas não é igual à nossa canja.

Podem passar séculos, como passaram desde que pela primeira vez chegou à Europa e entrou em tantas e muitas casas de Portugal. A receita foi-se aprimorando, de casa para casa, de avó e mãe para filha e neta, à custa do sacrifico de tantas galinhas, a canja tornou-se parte do quotidiano e parte do vocabulário.

Não só em Portugal, mas também em tantos lugares onde há portugueses, essa receita tradicional, passada de gerações, continua a existir, continua a ser o acalento de tantos estômagos ora enfermos, ora esfomeados. Assim é que até os netos de portugueses, com pouco ou nenhum domínio da língua, uma das frases que depressa aprendem é a canjinha da vovó.

Sem dúvida que é uma sopa que me intriga. Há anos que tento fazer a receita especial, o sabor original que me recordo comer desde criança, mas não consegui. Será a quantidade de caldo que faz a diferença? A hortelã ou a cebola? O alho ou as partes da galinha? Será o arroz ou a massinha? É um investimento de uma vida, descobrir a receita ideal da canja. Talvez nunca a alcance, porque canja como a feita pelas nossas mães, não há, ou muito dificilmente se encontra.