Os “media” andam agitados. É um tema insistente de conversa e de discussão. Ficamos a perceber, infelizmente, que este novo mundo que conhecemos não é para idosos. Na ordem do dia, a suposta decadência física e intelectual do presidente americano. Na minha opinião, tem sido lamentável a forma como Biden tem sido tratado. Serão os idosos incapazes de gerir, de tomar decisões, de se tornarem líderes, ainda que seja da maior potência mundial? Como tem sido até aqui? Como tem sido avaliada a sua performance como Presidente dos Estados Unidos?
A partir de um debate, de um momento que não correu bem, todas as hipóteses foram atiradas para cima da mesa, sempre no sentido da resignação. Basta olharmos para outras realidades e perceber que nem sempre estas discussões políticas correm bem. Por vezes há tensão, ansiedade e nervosismo, o que em muitos casos acaba por atraiçoar os intervenientes, independentemente da idade. Mas a única hipótese que se coloca no momento é a do abandono de Biden à corrida presidencial.
Talvez o receio de Trump seja de tal ordem que a única solução é encontrar um candidato ou candidata vigorosa, jovem, com determinação, capaz de enfrentar esse desafio. Parece curioso, mas esse receio da vitória do candidato republicano é muito mais do mundo do que dos próprios americanos. Mas convém relembrar que Trump não é muito mais novo, apesar de aparentemente, apresentar um maior vigor. Ou talvez a mensagem que nos querem passar seja a de que “os velhos” não servem, não podem, não são capazes...
Sabemos que a idade não perdoa e que esse caminho é irreversível. Mas é cruel saber que ao menor sinal de fraqueza ou de debilidade, tornamo-nos completamente descartáveis e inúteis. Por muito que as sociedades modernas falem na obrigação em tratar de forma justa os que nos antecederam, nomeadamente as gerações anteriores, a realidade demonstra que em muitos casos, são somente intenções ou palavras vãs. O dia a dia reflete o contrário.
Na política, isso ainda é mais notório. Em algumas comunidades, passadas ou presentes, com diferentes formas de organização social, os mais velhos, os anciãos, são figuras respeitadas e a quem se recorre para a tomada de decisões.
A lucidez e a ponderação dos mais velhos é fundamental para a evolução e para o desenvolvimento. Porém, hoje em dia, todos esquecem o passado de Biden e a forma como integrou diferentes projetos políticos. Essa sabedoria acumulada de anos de trabalho em lugares de topo, no olho do furacão, tem para mim um valor incomensurável.
A experiência, essa maturidade, esse percurso não contam hoje? Não servem para nada? Penso que sim, mas aparentemente, não. Nos tempos que vivemos, o discernimento é fundamental. O Biden de hoje não é o de antes. Em relação a isso, o passar do tempo não deixa dúvidas. Todos para lá caminhamos e sentimos isso, em nós e ao nosso redor. Mas também sabemos que a idade traz sabedoria. E isso em muitos casos é fundamental, para poder agir com bom senso. Tomara nós poder ter essa longevidade tão desejada, de forma saudável.
Talvez faça falta hoje escutar os mais velhos, seguir os seus exemplos, sabendo que muitos dos nossos já não se encontram entre por cá. Mas os valores que deixaram muitas vezes teimam em persistir, sabendo que o mundo atual é implacável com os cabelos brancos, as rugas e os esquecimentos.
Ou talvez seja somente o nosso medo coletivo em envelhecer a falar mais alto...