10 Junho 2016      12:36

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BEJA: O AEROPORTO QUE NÃO DESCOLA

Depois de ter sido inaugurado com pompa e circunstância acreditava-se que podia ser mais um foco de desenvolvimento do Alentejo, mas passados 5 anos permanecem as dúvidas e controvérsias sobre o seu sucesso e viabilidade. A operar desde 2011, o aeroporto de Beja – um investimento de cerca de 33 milhões de euros -  está quase sem atividade e aquém das expectativas da população, empresários e autarcas, que criticam a “falta de vontade política” para desenvolver a infraestrutura.

Até ao momento nenhuma companhia de voos regulares mostrou interesse em voar para lá e o número de passageiros recebidos até agora é tão pequeno que as entidades oficiais não o precisam.

No entanto, já se procuram soluções para tirar o máximo rendimento da infraestrutura que surgiu da adaptação a aeroporto civil da base militar aérea nº 11, que, por sua vez, tinha surgido de antiga uma pista alemã.

Foram sendo realizados muitos contactos e tentativas de trazer operações comerciais para este aeroporto – em resultado da cooperação entre a ANA - Aeroportos de Portugal (a autoridade gestora dos aeroportos de Portugal) e as entidades e operadoras de Turismo – mas sem sucesso relevante; a aviação comercial no Alentejo teimou em não se desenvolver.

De acordo com a ANA, a decisão de construir o aeroporto foi tomada “num contexto em que estavam programados ambiciosos planos de investimento turístico e imobiliário, que seriam suscetíveis de gerar tráfego de passageiros” em Beja. Mas, “a suspensão da maioria” dos investimentos eliminou a relevância da componente de transporte de passageiros e, por isso, “nenhuma empresa de transporte aéreo regular manifestou uma intenção séria de utilizar” o aeroporto.

Assim, “as operações comerciais de tráfego de passageiros suscetíveis de concretização deverão estar associadas a projetos desenvolvidos e acordados entre a entidade regional de turismo, os operadores turísticos e as unidades hoteleiras da região”, como tem acontecido até agora, refere a ANA.

A situação “impôs uma mudança de estratégia” no aeroporto e, por isso, a ANA refere que “tem diversificado a sua aposta também noutras atividades”, como o uso da infraestrutura para estacionamento de média-longa duração de aviões. Algo que não satisfaz inteiramente os autarcas locais, por não ter impacto na economia local e regional.

De momento, a Hi Fly, a SATA Azores Airlines e a EuroAtlantic têm mantido uma média de 3 a 5 aviões por semana estacionados.

Outro resultado desta estratégia é o investimento de oito milhões de euros, da empresa portuguesa AeroNeo, numa unidade de manutenção e desmantelamento de aviões e valorização de ativos aeronáuticos – essencialmente os gigantes Antonov, como o TRIBUNA ALENTEJO noticiou em dezembro passado - algo que criará cerca de 100 postos de trabalho e que acabará por ter algum impacto social e económico na região.

A construção do aeroporto de Beja, para aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11, foi durante muitos anos defendida e reivindicada por autarcas, instituições e populações. Em 2000, o Governo reconheceu o interesse na promoção da Base para fins civis e iniciou o estudo de viabilidade do aeroporto de Beja e criou a EDAB.

O estudo, que determinou a viabilidade do aeroporto, terminou em 2003 e as obras de construção da infraestrutura começaram em 2007 e terminaram em 2009. O aeroporto começou a operar a 13 de abril de 2011, quando se realizou o voo inaugural, mas, desde que começou a operar o aeroporto só teve três operações relevantes de voos ‘charter’, sendo que a primeira, entre Beja e Londres, foi promovida em 2011 por um operador turístico britânico - incluiu 44 voos e movimentou 807 passageiros.

As outras duas foram promovidas por um grupo hoteleiro: uma de oito voos, entre Estugarda e Beja, em 2011, e outra de nove voos, entre Hannover e Beja, em 2012.

Uma outra operação ‘charter’, entre Paris e Beja, promovida por um operador turístico português em 2014, foi cancelada após terem sido realizadas apenas quatro das 12 rotações previstas.

Mas continuamos sem data de alavancagem e descolagem económica desta construção que foi financiada através de fundos comunitários e do Orçamento do Estado provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e contempladas no Programa de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central de 2006 (15,9 milhões de euros), 2007 (15,1 milhões) e 2008 (2,1 milhões).

Imagem daqui.