8 Julho 2022      10:44

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Barragem do Pisão é importante apesar dos impactos negativos

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto da Barragem do Pisão, no Crato, que se encontra em consulta pública, alerta para “impactes negativos significativos”, mas defende a obra pelo “valor socioeconómico” que terá para a região.

O EIA do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (AHFM) do Crato, que é promovido pela Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), encontra-se em consulta pública desde dia 1 de julho, prolongando-se esta fase até ao dia 11 de agosto.

De acordo com o resumo não técnico, citado pela agência Lusa, o empreendimento, que se encontra em fase de estudo prévio e irá envolver um investimento de 171 milhões de euros, vai gerar “impactes negativos significativos”, implicando a “afetação substancial” de valores naturais, patrimoniais, ecológicos e socioeconómicos.

Contudo, o estudo refere que, “tendo em conta o valor socioeconómico” que o projeto pode representar para uma região como a de Portalegre, “muito carenciada de projetos estruturantes” e que potenciem o desenvolvimento regional, “considera-se ser de viabilizar” a sua construção.

O documento recomenda ainda que seja assegurado o “cumprimento da totalidade” das medidas de mitigação e compensação e dos programas de monitorização previstos no próprio EIA.

Assim, para a fase de construção, é proposto um programa de monitorização de recursos hídricos superficiais, que “permitirá avaliar" as condições da água e dos animais que nela habitam.

Considerando a fase de exploração, foram definidos, “para os primeiros cinco anos de projeto, vários programas de monitorização”, tanto ao nível dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, como dos solos, do ruído e da componente ecológica.

O estudo menciona ainda que a monitorização da avifauna e de morcegos é outra das áreas do programa de monitorização, “visto terem sido encontradas, na área de implantação do projeto, espécies ameaçadas pertencentes a estes grupos”.

Recorde-se que a Barragem do Pisão é uma aspiração e reivindicação histórica das populações do Alto Alentejo, com mais de meio século.

Segundo a CIMAA, entidade responsável pela execução do projeto, a futura estrutura que vai surgir numa área de 10 mil hectares, vai beneficiar cerca de 110 mil pessoas nos 15 municípios do distrito de Portalegre e o seu “principal objetivo é garantir a disponibilidade de água para consumo urbano”.

Além disso, visa “reconfigurar a atividade agrícola e criar oportunidades para novas atividades económicas, nomeadamente ao nível da agricultura, do turismo e no setor da energia”, já que engloba também uma central fotovoltaica flutuante (cujo financiamento ficou de fora do PRR).

A associação ambientalista Quercus já veio alertar para os “grandes impactes ambientais negativos” decorrentes da construção da Barragem do Pisão, alegando que vai destruir “centenas de hectares de montado”.

Em comunicado, a associação destaca que, “numa época de crise económica, este investimento deveria ser alterado”, pois, o projeto “tem grandes impactes ambientais negativos, destruindo centenas de hectares de montado, com dezenas de milhares de azinheiras”.

“Além da destruição na área florestal de montado da região”, a rega prevista “vai promover o alastramento descontrolado das culturas superintensivas de regadio”, as quais têm vindo “a descaracterizar o Alentejo”, argumenta ainda a Quercus.

 

Fotografia de ambientemagazine.com